"As possibilidades de felicidade
são egoístas, meu amor"
Cazuza
...o bloco passava e o suor do ritmo levava as gentes, enquanto apenas ele, Pierrô, parecia perdido no meio da massa festiva, contraponto necessário à alegria indomada que invade as almas em fevereiro. Mês canhestro, menos dias mesmo quando bissexto – de lua, sempre desconfiada, pronta para dar o bote nos amantes distraídos. Pois ia o bloco, tarde caindo, esmaecendo de cores o horizonte fatigado da bagunça de todo o dia. Pierrô amolecido e uma lágrima rolando coração adentro, já que solidão não se engana com máscaras de plástico nem se cura com sorrisos forçados.
Já desistia de qualquer festejo, o Pierrô, certo de que tristeza não se dá a estripulias, quando, de repente, a Odalisca do outro lado da rua hipnotizou-o com olhos de sherazade, prometendo-lhe as mil e uma noites que todo coração deseja ao partir-se por amor desfeito. Acreditando nas promessas da súbita aparição, Pierrô largou-se à sorte que só uma paixão pode gerar, pulando e arrulhando como se a festa somente a partir daquele instante começasse.A Odalisca seguia em frente com seus passos sensuais, desbravando braços e pernas pelo caminho como fosse a própria cobra a abrir passagem para o Paraíso. Chegando a uma viela escura, puxou-o a Odalisca para junto de si, fazendo com que bebesse do néctar divino e adivinhasse suas curvas por debaixo da transparência que a fantasia deixava entrever. Pobre Pierrô que, tomado pelo susto das ilusões, esqueceu-se de que amor de carnaval acaba quando menos se espera, assim como chega a quarta-feira de cinzas no melhor da folia: antevendo a sensação do gozo, nem notou quando o canivete rasgou-lhe as entranhas de lado a lado, senão que a dor foi insuportável para sequer terminar o último beijo. A noite caía, o carnaval chegava ao fim e, com ele, a realidade que nada tem de carnavalesca, na qual as fantasias são ainda menos óbvias. Na carteira havia duzentos reais. O restante a Odalisca jogou na calçada, enquanto sorria, cúmplice, para a lua...
Já desistia de qualquer festejo, o Pierrô, certo de que tristeza não se dá a estripulias, quando, de repente, a Odalisca do outro lado da rua hipnotizou-o com olhos de sherazade, prometendo-lhe as mil e uma noites que todo coração deseja ao partir-se por amor desfeito. Acreditando nas promessas da súbita aparição, Pierrô largou-se à sorte que só uma paixão pode gerar, pulando e arrulhando como se a festa somente a partir daquele instante começasse.A Odalisca seguia em frente com seus passos sensuais, desbravando braços e pernas pelo caminho como fosse a própria cobra a abrir passagem para o Paraíso. Chegando a uma viela escura, puxou-o a Odalisca para junto de si, fazendo com que bebesse do néctar divino e adivinhasse suas curvas por debaixo da transparência que a fantasia deixava entrever. Pobre Pierrô que, tomado pelo susto das ilusões, esqueceu-se de que amor de carnaval acaba quando menos se espera, assim como chega a quarta-feira de cinzas no melhor da folia: antevendo a sensação do gozo, nem notou quando o canivete rasgou-lhe as entranhas de lado a lado, senão que a dor foi insuportável para sequer terminar o último beijo. A noite caía, o carnaval chegava ao fim e, com ele, a realidade que nada tem de carnavalesca, na qual as fantasias são ainda menos óbvias. Na carteira havia duzentos reais. O restante a Odalisca jogou na calçada, enquanto sorria, cúmplice, para a lua...
- música do post: "todo carnaval tem seu fim", Los hermanos