29.2.08

descobrir-se

(...também poderia ser: do(s) dedo(s) preso(s) na dobradura da porta; ou: a verde queimadura solar que arde em girassol; ou ainda: descobriu-se num beijo traiçoeiro que lhe matou a carne e enlouqueceu-lhe o espírito...) Escolha, sabendo que tanto faz...

Entrou e fechou a porta atrás de si. Mas de certo modo era como se tivesse ficado do lado de fora. Não ele, como um todo. Talvez alguma parte sua. Assim como se houvesse um dos dedos seus entre as dobraduras. Nesse caso haveria dor. Não há nada, porém. Arrastou-se deixando as costas roçarem a parede até o ponto em que seu corpo formou um ângulo reto em relação ao chão. Reto: o ângulo; ele: obtuso. Abrindo-se em relação... Não saberia dizer a quê, mas era algo novo – sim – algo totalmente diferente se apossara de seus domínios mais guardados, de seus segredos mais secretos. Alguma coisa havia de diferente, ou melhor, de não-igual. E isso após o beijo.
Aquele beijo único mudara a sua vida. Não seria mais o mesmo; não era mais o mesmo. Arrastado em ângulo reto com as costas contra o branco da parede se sabia cada vez menos. Como se algum dia tivesse se sabido. No entanto agora ainda menos, menos. Menos. Tão menos que de repente mais, mais. Mais. Assustou-se. No início não. Mas assustou-se quando se percebeu desse jeito, tão revelado de si. E não por conta dele. Fora algo de fora, e talvez fosse isso o que o espantava tanto: de fora, de outrem, da boca dos fluidos da alma de algum outro. E que ele mal conhecia. Nunca havia feito antes. Isso. De beijar, não. Mas de beijar o desconhecido. Era algo como entrar em contato com um pedacinho do Indizível, da Essência de seu próprio espírito conjugado em carne. Unindo a sua carne àquela outra carne chegara ao cúmulo de seu próprio espírito: a conjunção de sua alma consigo mesma se fez tão intensa e tão singela ao mesmo tempo paradoxalmente que doeu doeu doeu tão forte que lhe deu uma falta de ar tamanha. Desfez o ângulo reto que lhe comprimia a espinha e correu à janela. As cortinas estavam fechadas. Deu à luz o seu brilho. Não dele, mas da própria luz, através do sol aceso e vespertino – afastando como a um louco a sua (in)consciência as cortinas, viu-se todo iluminado pela primeira vez: pela primeira vez a sua inteireza havia sido revelada como foto antiga, em preto-e-branco com charme de technicolor. O verde de seus olhos ardeu como o vermelho do fogo. Também havia o fogo, a paixão, o amor, o prazer, o puro tesão no olhar, voltado para a luminosidade até os confins de não-saber-onde. Ter na iluminura a salvação de ver-se a si próprio é como um girassol que roda ao redor da quentura leniente do sol.
A sensação novamente em seu corpo, em sua carne, por dentro. Quente como o sol. Queimando como o fogo mais profundo de seu ser, colorindo de verde o seu próprio sangue. Ah, o choque dos dentes, o sabor da saliva escorrendo ele adentro, a língua, as línguas, o movimento das mãos descobrindo bocas, lábios se tocando, se mordendo, comunhão mais-que-perfeita de carne & espírito. Mas não. Todo aberto, todo dado, todo claro não podia ser. Qual a vantagem de se ter por inteiro, assim, na ignorância impávida de uma rocha? Ele se sentia qual uma rocha. A diferença, porém, era que ele sabia ser uma rocha. A rocha é rocha sem saber-se de si. Não há um si. Nem possibilidade.
A possibilidade. Tantas coisas ele podia ser. Imaginara tantas vezes. A certeza de agora lhe tirava essa chance. Ou todas as outras. Ele estava certo do que era. Ali, parado em frente à janela aberta que dava pro sol queimando de verde a face: sabia-se. Com certeza. E isso não podia. Não queria. Antes, sim. Era sedutora a idéia de possuir-se por inteiro, ele que sempre se achara tão perdido em meio às suas inúmeras partes. Porém o resultado era plenamente insatisfatório. E a culpa disso era do beijo. Daquele beijo. Único que lhe fez também único. No meio do caminho um gole de saliva. Estranha. No meio de seus fluidos uma língua. Estranha. No meio de sua alma, ele-mesmo. Estranho. E pra sempre seria assim. Vendo-se como era, sem análises ou racionalismos que morreram todos naquele instante ínfimo de romantismo, ou, melhor dizendo, de não-pensar (sabe aquelas coisas doidas que a gente faz e depois se pergunta “meu-Deus-onde-é-que-eu-tava-com-a-cabeça?”). Pois é. Ele não pensava nisso. Aliás, não pensava em nada. Tinha no fundo de sua razão aquilo que deveria fazer. Um algo que lhe soprava por dentro dos ouvidos. Só que mais por dentro ainda. Decerto não adiantaria furar os tímpanos. Não. Pois agora os sussurros eram gritos e lhe apertavam a cabeça contra todos os seus ossos. Gritou, e gritou o mais forte que pôde; seu cérebro esmagando-se contra o crânio, seus músculos todos reclamando um vazio que não lhes podia oferecer. Como fosse todo fraturar, debruçou-se sobre si num ato louco, gemendo, uivando, urrando como besta. Até que num clarão de sua mente aos desesperos surgiu-lhe a derradeira e singular opção, posto que única, transmutada de certeza una: ao ver-se através daquele beijo, desnudou-se-lhe todo de suas máscaras e de suas fantasias quanto a si próprio, e isso não agüentava, não aturava se ter por completo, pesava, doía sobremaneira, tanto que seu corpo físico lhe reclamava sobre algo que nem ele nem sua (des)matéria poderiam suportar. Por impossibilidade, não por falta de escolha, pois que são diferentes: com os próprios dedos, fatigado de sua presença, arrancou de súbito os próprios olhos. Ardia e escorria todo em sangue pra fora pra fora sempre pra fora junto ao líquido verde que o sol queimara e, espesso, misturara-se à sua substância de gente.
O desespero só fez aumentar: na ignorância de saber-se por completo, não reparou que seus olhos de homem, de humana pessoa, é que nada lhe diziam: havia a sensação de si-mesmo impressa na alma, por conjugação com a própria carne. Através daquele único beijo uno viu-se por completo, obtuso em ângulo reto comprimindo as costas contra a parede branca. E não suportou. E não entendeu. Porque dói, e doeria cada vez mais. Cego do mundo, vidente de si, num ato final atirou-se sem tatear nem pestanejar pela janela aberta, sem hesitações em pleno dia de sol, girassol rodando num rodopio maluco até o chão de cimento. Cinza. Quente. Aconchegante. Finalmente a paz. Do corpo. Pois o espírito, pra sempre descoberto, não se encaixa em seu não-existir.
Descobrir-se é como bater a porta e deixar um dedo na dobradura. Mas não há dor. Então não há nada. Apenas o sol que queima ardente um fogo verde e desesperado pra dentro e por dentro da gente.

- música do post: "meu mundo caiu", Maysa

25.2.08

e kem disse q era fácil?

...parece que quando dizemos "mudei" tudo se transforma. E é claro que não é bem assim. Pra nós. Pros outros. Masss a cobrança está lá e só aumenta. Por quê? Simples: porque nós - e também os "outros" - desejam que cumpramos com as nossas obrigações diárias e, dentre elas, estão as nossas (malditas) promessas. Nem incluo aqui as tais que fazemos no final do ano às 23:57 do dia 31 de dezembro. Ou mesmo aquelas que reiteramos durante janeiro inteirinho e que, assim como as férias - e o carnaval... - terminam em março. Falo das GRAAANDES promessas. Dessas que, com caps lock, exagero e tudo mais, são capazes de modificar as nossas vidas pra sempre pra sempre pra sempre pra sempre......... e o eco torna-se tão intenso que, realmente, acreditamos nisso tudo. Eu já jurei várias e várias coisas por várias e várias vezes pelos maiores e menores motivos... Se já deixei de cumprir algumas? Bom, deixo o meu orgulho de lado e digo que: sim, já deixei. Mas claro... afinal de contas, somos todos seres humanos, certo? Errado. Pelo menos pra mim. Não deixo de cumprir as minhas promessas que envolvam os outros - e isso engloba trabalho, amizades, amores, colegas, familiares, encostados ou qualquer outra coisa do gênero... Massss quando chega a minha vez... ah, é aí que o bicho pega, pois sempre me vejo "descumprir" quase tudo aquilo que eu um dia prometi, jurei de dedos cruzados de escoteiro que jamais faria (ou, por outro lado, que faria o quanto antes...). Bem, como nunca fui escoteiro, acho que posso me dar esse crédito. Sim, posso, eu sei. Mas acho também que não posso mais ficar me enganando. Aprendi a certo custo como dizer "não" pra muitas situações e pessoas - e talvez seja por isso que, quando prometo algo a elas, cumpro. Porém, comigo mesmo a banda toca diferente, assim meio fora de tom e desafinado, e eu vivo tropeçando nas cascas de banana que planto pelo meu caminho. Não, ninguém me disse que era fácil mudar. Eu que me prometi, jurei que seria outro e... Bom, nada muito feito até então. Também não tô frustrado, não é pra tanto. Percebi apenas que querer muito algo não significa obter esse algo, mesmo que pra tal nos prometamos certas coisas... Por isso não quero mais me prometer nada, coisa alguma que seja. Ao contrário: quero fazer tudo pra mim sem o peso das cobranças de um "eu juro". Meu. Dos "outros". De quem quer que seja. Não é ser egoísta, e sim ser eu-mesmo. Assim como tô ou diferente, quem sabe. Quem sabe? Ninguém. Não é fácil. Não é difícil. Amanhã começo. Prometo... oops, fiz de novo... e quem disse mesmo que era fácil?...

..."mas prometer algo a si mesmo é estar fadado à traição"... (incrível como a gente escreve as coisas e nem se dá conta da verdade delas...)...

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...a querida Eury, lá do seu "Igualdade na diferença", me mandou um elo de uma corrente super bacana. Pelo que entendi, eu tenho de "eleger" 12 palavras da nossa riquíssima língua portuguesa que me soem interessantes, diferentes, bonitas ou que simplesmente me chamem a atenção... Bom, vamos lá (ah sim: a ordem em que aparecem não quer dizer nada...):...

...melancolia...
...liquidez...
...melífluo...
...fluido...
...paralelepípedo...
...conquanto...
...borboleta...
...girassol...
...esperança...
...tristonho...
...taxonomia...
...esverdeado...

...como essa corrente é super gostosa, passo a quem quiser respondê-la. Ai, tenho certeza de que vou querer mudar tudo assim que postar...rs...

- música do post: "o quereres", Caetano Veloso

22.2.08

apenas um rapaz

...o que o tornava diferente naquela noite era o fato de não chorar. Chovia forte, um frio cortante subindo-lhe pelas costas até os fios mais finos de cabelo da nuca loura e: não, ele não chorava. Mantinha-se ereto, firme, estóico como uma daquelas montanhas geladas dos filmes que assiste, de vez em quando, em suas madrugadas insones. Sozinho como as montanhas geladas, e um sorriso irônico coloriu meio amarelado sua face alva encostada no vidro esverdeado da janela aberta.
Esse rapaz não tinha pai nem mãe, o que podia fazer com que pensassem que o jeito meio distante e reservado, apesar de sua nítida extroversão, era apenas um reflexo disso. Digo com segurança que não, não era um reflexo disso. E digo porque conheço esse rapaz, e sei que se fosse de outro modo, ele o seria do mesmo modo, do jeito como eu ou qualquer outra pessoa que já o conheça (ou que venha a conhecê-lo) aprendeu a decodificar.
Mas se eu dissesse desse modo, certamente pensariam que o rapaz é complicado. Também não. Nessa noite incomum de frio cortante após um pleno dia de sol, escondido em casa como um bicho de vida noturna, após isso o rapaz apenas pensava em sair. Não sabia pra onde e na verdade isso era o de menos. Saber aonde ir ou o que fazer não faz parte de seu repertório de vida – esse rapaz não ensaia, não é do tipo que vive quadrado. Pelo contrário, ele não tem ângulos nem script; ele improvisa. O rapaz é redondo, apesar de sua magreza. Ser magro, aliás, dava-lhe a destreza de escapulir pelas menores frestas quando bem lhe conviesse ou quando fosse o momento oportuno. O rapaz é redondo sim, mas redondo de alma. Uma sorte e tanto, pois isso é de nascença adquirida, algo que não, não se aprende: ter a alma redonda proporciona, em um alguém, uma capacidade de adaptação única. Possuir a noção exata de qual máscara vestir em qual determinado momento fez do rapaz uma figura hábil, quase caricatura de si mesmo. Se o escorpião encalacrado pelo fogo desespera-se e finalmente opta pelo suicídio – escapismo covarde – em vez da morte certa o rapaz funde-se ao próprio fogo, aproveitando o seu calor pra depois calcinar em vingança aqueles que lhe atearam, sem dó, a sua mortalha.
Em suas longas poucas décadas de vida, ele, o rapaz, aprendeu a alto custo que confiar nos outros nunca é a melhor opção. Sua defesa é o prévio ataque. Sair como estrela de espetáculos em que lhe caberia somente o papel de coadjuvante era o que mais o impulsionava. Tinha confiança em si próprio, e a certeza de que pra ele havia sido reservado o melhor dos destinos. E sozinho. Que se dane, não precisava de quem quer que fosse mesmo. Sozinho. Talvez incompleto, mas ciente de si. Pro rapaz, a aparente completude das coisas apenas lhes camuflava suas fraquezas. E por isso é que se tinha forte.
Pronto, enfim decidira-se. Realmente ia sair. Optando por sua máscara de morcego, pensava em quantas e quais seriam suas vítimas esta noite. Aquela era sua máscara mais recorrente, a que usava nessas noites de frio cortante e lua cheia. Não era de uivar como os lobisomens fracos e carentes. Era de morder e arrancar do outro a sua própria subsistência, que consistia em basicamente provar ser: mais forte, mais inteligente, mais sagaz, mais rápido. Mais. Subjugar a existência alheia não era o seu objetivo primário, e sim uma de suas conseqüências secundárias.
O sorriso irônico amarelado deu lugar a outro, de um brilho misterioso e maléfico. E sarcástico. Presas a postos, estava pronto pra mais uma noite. Já é hora, é meia-noite, expansão de território, revista de suas posses. Um dia ainda seria muito, muito mais do que qualquer um. No entanto ainda era noite alta e ele não tinha a noção. O sorriso transformou-se em risada diabólica, sombria manifestação de seu espírito conquistador. Não, o rapaz não é um demônio, é gente como a gente, porém de um tipo de gente que aprendeu por força do hábito a se defender da gente. Mas tomou o precioso cuidado de não rir muito alto sua exata conclusão. Ter o cuidado de não se transbordar era necessário. Grossas gotas de um suor frio escorriam por suas costas nessa noite cada vez mais gelada, enquanto um único fio de sangue percorre uma trilha invisível desde seu pescoço até o forro colorido do estampado.
Seria esse mais um rapaz como qualquer outro. O que o torna diferente não é o fato de não ter pai nem mãe, mas o brilho intenso de seus olhos quando nos olha nos olhos. Ou talvez não. Talvez esse seja mesmo um rapaz como qualquer outro, e eu é que me tenho enganado, pois se todo brilho, assim como chama, dura pouco e apaga-se, num momento, de vez:
- Onde é que o rapaz vai parar, meu Deus?
Não houve resposta. A chuva cessou e ele saiu. Sem rumo. Novamente. Mas não importa. Apesar de forte, em suas fraquezas o rapaz chorava...

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...a sempre querida e carinhosa Gisele, lá do seu "Pois já é hora de pôr recordações para fora", presenteou o inacreditável mundo de alex e! com mais esse selinho super divertido (e que eu sempre quis ter...). Ela diz que vem ao meu blog, e eu digo muitíssimo obrigado pelas visitas sempre constantes e pelos comentários atenciosos. Um beijão pra ti, viu minina!!!...

...(e pra receber esse belo selinho, indico os seguintes blogs:

- "Dominus";
- "Pensamentos da poetisa";
- "Através do meu espelho";
- "Memórias de um adolescente";
- "Igualdade na diferença";
- "Jornal da lua",

pois, sempre que "EU VÔ!!!" a esses blogs, sempre tem alguma coisa ou divertida, ou instigante, ou emocionante, ou diferente, ou criativa ou, enfim, tudo de bom pra ler! E é por isso que eu volto sempre e os recomendo. Vale a pena!!!)...

- música do post: "samba de amor e ódio", Roberta Sá

19.2.08

reflexões d tardes nubladas

...tenho me sentido estranhamente desanimado pras coisas. Digo "estranhamente" porque tenho plena consciência de que agora, neste momento, as coisas deveriam estar diferentes pra mim. Que coisas, então me pergunto... E é aí que empaco. A resposta não vem e palavras todas soltas se esparramam cabeça adentro. Mas tudo bem. Uma hora tudo se arranja e volta ao normal... Ou não. Depende do que temos cada um sobre o que seja essa tal "normalidade". Talvez nem seja tudo isso; talvez seja nada demais. Só não sei o que pensar. A não ser que às vezes nosso corpo e nossas emoções não nos correspondem ou sequer reagem da maneira como esperamos. É mais ou menos como plantar girassóis: frágeis, nunca se sabe quando vão "vingar". Por vezes crescem tortos e o talo quebra. Fica a sensação de trabalho em vão, de energia desprezada. Por isso não planto mais girassóis. Em vez disso, resto na varanda a olhar pro alto e ver que o céu se fecha lentamente. Admiro a dança dos pássaros em debandada contra a chuva por vir. O desenho das nuvens me fascina. É possível ver tantas formas, descobrir tantos significados através delas... Me pego que nem bobo viajando lá no alto com elas. Também gosto de viajar nas pessoas. Não que isso seja algo proposital. Não forço. Apenas vem. Apenas acontece. Quando me dou conta, já criei toda uma vida praquele ilustre desconhecido meu. Tá, isso parece papo de doido (talvez até seja né...), massss, sei lá, algo me diz que há um objetivo por trás disso. E, se não isso, pelo menos alguma serventia. Gosto de ficar sozinho, no meu cantinho, "pensando na vida", bem como diz a vovozinha. E, por incrível que pareça, essas "pessoas", esses outros que crio por vezes aparecem e conversam comigo, me dão conselhos. No fundo no fundo sou eu mesmo, claro, mas é bom que nossas próprias decisões nem sempre soem como algo que realmente "parta" da gente... Vai ver que é essa a tal serventia. Ou então simplesmente me ajudar a escrever os textos menos pessoais que ando postando por aqui. Sei que nada disso deve tá fazendo muito sentido. E também não é pra tanto. São apenas reflexões de tardes nubladas típicas do verão carioca... Agora tá tudo cinza por aqui. Mais: tá tudo prateado. Adoro esse efeito. Dá um ar de nobreza melancólica ao sol que vai embora meio triste por não ter brilhado como deveria, dourado como bem queria. Enfim, isso me ensinou mais uma coisa: não se pode ter tudo... Masss, nada impede que a gente crie né. Sonhar não custa nada, a não ser assumir um tiquinho de loucura...

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...a sempre fofíssima Aninha, lá do seu "Pensamentos da poetisa", resolveu premiar o inacreditável mundo de alex e! com mais esse selinho, um dos mais lindos que já vi por aí. Ela afirma que aqui no mundo há uma mente iluminada que, no caso, sou eu mesmo!!! rs... Mais uma vez muitíssimo obrigado, querida, pelo presente, pelo carinho e pela consideração constante, viu! Quero apenas lembrar que esse selo é criação da Cris, lá do seu "Dominus", o que me faz ficar duplamente honrado pela indicação... Um beijão bem grandão pras duas!!!...

- música do post: "o vento", Los Hermanos

16.2.08

entre os dois um diálogo

“...então, é assim que funciona. Sem mais nem menos”.
Falava. Enquanto isso um cheiro absurdo de fumaça de cigarro. Odeio cigarro. Sua fumaça também. Impregnada em minhas roupas – em todas elas – sou obrigada a me sentir fedida por aquele veneno de que ele tanto gosta. Usa um perfume forte; de que adianta? Já lhe disse isso também – mas de que adianta?
“...é a vida... C’est la vie, como dizem os franceses. Se bem que eu acho que nenhum francês diz isso. Besteira... É só pra mostrarem como deixam que a gente se apodere de um pedacinho de nada da língua deles, um pedacinho tão pedacinho que eles nem usam...”
Não sei por que eu continuava insistindo nisso. Só de relance eu podia ter previsto. Besteira a minha de achar que dessa vez seria diferente, que haveria volta. Volta, entretanto, pressupõe um algo de antes, melhor. Melhor, não. Não necessariamente. Mas não isso. Isso de agora. Isso de agora eu não suporto.
“...dizem que não tem mais jeito, né. Putz, quando soube disso lembrei de ti. Na mesma hora. Fiquei me perguntando: que que será que ela tá pensando disso?”
Se me dignasse a responder, diria que: nada, não pensei e não tô pensando em nada. Somente em sair daqui e nunca mais voltar. Não pra antes, pr’aquele algo. Nem precisa de tanto. Contanto que não seja aqui, com ele. Ele que já foi de tudo um pouco pra mim. No momento não mais do que um corpo estranho, falante e irritante.
“...mas assim, por que é que tu não te despregas dessa janela desde que chegaste? Anda, vem tomar um trago comigo. Não precisa nem fumar, sei que tu não és muito chegada na erva. Mas pelo menos olha pra mim...”
Continuei na mesma posição, observando o descolorido dos outros prédios ao redor. Num deles uma mulher trocando de roupa, lentamente, a preparar-se para um encontro. Amante? Com certeza. Eu ficaria com o vermelho, se fosse ela, mas... Noutro havia um homem se masturbando em plena tarde de quinta-feira, sentado em uma banqueta de madeira com uma revista na mão. Visão aguçada: era de homem. Homens. Pelados. Transando. Quem diria, um cara com uma cara tão de macho... Mais adiante, uma família almoçando, quieta, concentrada: o pai numa cabeceira, a mãe na outra, os filhos no centro. O menino tinha uns olhos tristes vidrados no copo com suco. Parecia um pouco comigo.
“...ei, o que ‘tás vendo de tão bacana aí pra nem me ouvir?”
Levantou-se e veio até mim. Escutei o barulho do copo com uísque até a borda batendo contra o tampo da mesinha que eu lhe dera num aniversário distante. O cheiro do cigarro mais perto. A fumaça lentamente impregnando-se ainda mais fundo em minha roupa. O cheiro dele mesmo, tão característico, agora talvez a pouquíssimos centímetros de minhas costas. Estremeci de repente em um calafrio, como se dois corpos de mesma polaridade se aproximassem. Forças de repulsão agiam loucas, mas de nada adiantaram: seu braço esquerdo pousou em meu ombro.
“...ah, já ‘tá anoitecendo. Daqui a pouquinho o sol se põe. Por isso tu ‘tás aqui. Me lembro que tu sempre insistias em ver o pôr-do-sol... Antes”.
Antes. E um leve incômodo se instaurou no ambiente, tão fino como a penumbra de fumaça que perene embaçava o apartamento. A mão no ombro escorregou com braço e tudo até a cintura. Estremeci ainda mais forte. Calafrio. Forças de repulsão agiam loucas. Cargas se repelindo e por isso se unindo. Sempre achei que fosse balela, mas naquele momento de anoitecer, de sol indo-se embora, com a luz em lusco-fusco acontecia de modo a não parecer tão canhestro, apesar da mão ser a esquerda.
“...tu entendes um monte dessa parada de estrelas, né? Eu gostava de ouvir. Mas não vou pedir pra ti... não precisas...”
...eu sei, me deu vontade de completar. Permaneci parada em frente à janela com aquela mão na minha cintura, arrepios contidos e na nuca um bafo agridoce de bebida com fumaça que se colava também à minha pele. Senti-me impura, incongruente, traidora de mim mesma. Prometi-me que não mais aconteceria. Mas prometer algo a si mesmo é estar fadado à traição. De certo modo eu já sabia disso. E talvez por esse motivo é que não deixava de ir, todas as quintas-feiras, quando me ligava, dizendo:
“...pô, vem, não tô fazendo nada, nem você. Deixa o trabalho pra depois e vem pra cá, pra tomar uns tragos, fumar uma erva. Se não quiser pode vir só pra me fazer companhia, como sempre. Não farei nada, como sempre. Como queira. Não quero mais te magoar...”
Coisa de filme. Parecia decorado. Devia até ser, pois foi a única maneira de me convencer a voltar lá, depois de tudo o que já acontecera entre nós. Entre nós dois já acontecera de tudo, tudo quanto seja possível imaginar. Quando duas pessoas chegam a seus limites, quando não há mais o que surpreenda um ao outro, então o que resta é esse estranho lugar-comum de arrepios em um anoitecer de quinta-feira: uma fala forçada e qualquer que bastava pra que nós dois cumpríssemos o nosso papel.
“...uma estrela cadente... Ali, olha! Faça um pedido. De olhos fechados, hein... Isso...”
Pedi. Com fervor de uma vela acesa. Não havia nuvens no céu estrelado. A lua também não havia, escondida por detrás do homem limpando-se depois do orgasmo; a mulher já saíra em seu conjunto de vestido e sapatos azul-turquesa (eu ficaria com o vermelho... amante... dá sorte...); a família acabara de comer: a cabeceira vazia, e mais um lugar vago. Apenas o menino sentado com os olhos vidrados onde antes estivera um copo com suco. Antes. Sempre antes. Do sussurro, escutei apenas o trecho final:
“...me perdoa...”
Parecia comigo. Disse:
- Te perdôo.
E foi o que desejei à estrela. Antes. Sempre antes...

- música do post: "coisas que eu sei", Danni Carlos

14.2.08

kblos brancos

...sim, eu estive afastado por uns dias. Na verdade eu nem tive tempo de pensar ou de escrever qualquer coisa que não estivesse relacionada com... Bom, com o que eu tive de resolver meio que na marra. Cabeça confusa, um turbilhão de sentimentos diversos e, pra terminar, pressão por todos os lados. Cheguei a naufragar, mas por sorte (ou necessidade, não sei bem...) havia um bote salva-vidas à minha espera, ao meu alcance. E esse bote leva o nome de maturidade. Descobri nos últimos dias que "maturidade", essa palavra tão imponente, não é mesmo apenas sinal de que estamos ficando mais velhos, e muito menos é um indício seu o surgimento de cabelos brancos - um fio pequenininho aqui, outro menorzinho ali e assim por diante. A tal maturidade muitas vezes aparece justamente nesses momentos de desespero, quando tudo parece estar perdido. Claro que também não é assim do nada. Tem de se estar preparado pra reconhecê-la e, mais que isso, para bem aproveitá-la. Por isso agradeço - e bastante - as porradas que andei levando nos últimos 2 anos em diversos setores da minha vida, pois foram essas marcas roxas em mim que me prepararam pro que tive de lidar. Novos fatos, surpresas desagradáveis, descobertas insólitas, acho que aconteceu de tudo. Mas numa conversa longa, franca, honesta, sincera - e madura, claro - tudo isso também se resolveu. Por enquanto. Obviamente, pois, clichê ou não, ninguém pode saber o dia de amanhã (aliás, nem o próximo segundo. Um bomba atômica esquecida pode explodir de repente lá nos cafundós da Chechênia e matar todos nós...). Enfim, como eu disse já há alguns posts, tenho de realmente aprender a não tentar planejar detalhamente as coisas. A decepção é sempre maior. A pressão é sempre absurda, o que faz com que todos esses esquemas escorram ralo abaixo. Sendo assim, apesar de tá ainda todo machucado (e novos ferimentos foram feitos, já que a gente sabe que as palavras ferem demais...), aprendi que isso é o jeito, a maneira de encarar a vida e os seus pequenos grandes contratempos. Ficar o tempo todo de armadura, se protegendo de sofrer e achando que tudo tem de ser perfeito só faz mal. E muito. O controle não tá nas nossas mãos. Até mesmo as nossas vontades são limitadas. Não podemos querer tudo a todo instante. Nós também temos defeitos - váááários -, e quase nunca os admitimos, apesar de quase sempre apontar com facilidade e destreza os dos outros. Eu sei que essa conversa tá com cara de livro de auto-ajuda de 5ª categoria, e que também não tô dizendo nenhuma novidade aqui. Mas é justamente por isso que escrevo esse post, porque muitas vezes - e eu sou o 1º a me incluir nesse time -, muitas vezes a gente SABE sim disso tudo, é tão claro, não? Sim, claríssimo. Só que a diferença entre SABER e SENTIR é gigantesca, e é somente quando SENTIMOS na pele essas coisinhas que todo mundo sabe (claro...), é que realmente damos a devida importância a elas. E olha que é brabo fazer isso... Opa, mais um fio de cabelo branco. Mas não importa, há jeito pra tudo. Já já vou ali na farmácia e resolvo mais esse "problema"...

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... a sensibilíssima Aninha, lá do seu "Pensamentos da poetisa", afirma que o inacreditável mundo de alex e! é um "blog parada obrigatória". E eu te agradeço muitíssimo, querida, não só pelo selinho super bacana, mas também por teus posts sempre tão lindos e sinceros no teu blog que, merecidamente, é sim uma parada obrigatória. Bom, como eu penso que todos os blogs linkados aqui no mundo também são paradas obrigatórias (senão eu não diria que valem a pena né...), seria uma injustiça tremenda indicar alguns poucos pra receber esse selinho. Por isso digo com a maior alegria e carinho que todos podem se sentir agraciados com mais esse presentinho aqui do alex, viu. Um beijo a todos...

- música do post: "bye bye tristeza", Sandra de Sá

9.2.08

caminhada

...refazia os passos por cima de suas próprias pegadas, como se a não desistir do caminho tomado. No entanto, essa rubrica de si mesmo apenas o deixava ainda mais fatigado, ainda mais aborrecido. Estava escuro e nada enxergava além de cinco palmos diante de si. Também havia o muro – branco, alto e sereno – ao seu lado; o que mais podia fazer senão tocá-lo de vez em quando, buscando equilíbrio – compreensão? O muro era plácido, mas não podia compreender. Até que o viu, longe ainda, depois mais de perto. Vinha em sua direção, tão sereno que parecia saber aonde ia. Mais de perto um pouco, os olhos dele penetraram os seus, de um verde irresistível, como irresistível é sucumbir à esperança. Pararam um ao lado do outro. As vestes brancas, soltas, descoladas dos corpos jovens. Dois homens em meio a um obscuro destino ao lado de um muro solitário. Sós, a sós, os dois olharam-se com ternura de quem cumprimenta alguém que há muito não via, apesar de antes nunca se terem visto. Não se conheciam, mesmo que houvessem reconhecido um ao outro através daquele olhar. Cumprimentaram-se, um gesto vago e absorto com as cabeças de peles frescas e cabelos soltos ao vento – e foram. Cada um num sentido daquela mesma direção, o primeiro confirmando, o segundo negando os passos no chão de terra, até que não mais se soubesse a distinção de para onde ir. Iam. Pouco tempo depois, o mesmo processo se repetiu. Os homens se viram, se cumprimentaram e seguiram seus caminhos. Até novamente se encontrarem e refazerem o processo de antes, que era o mesmo. Até o infinito. O homem viu o outro homem, primeiro distante, depois mais perto, tão mais de perto que pôde notar o verde incompreensível dos seus olhos, e de seus olhos notar o mesmo verde, irresistível também. As vestes eram brancas, o muro era branco, não havia sinal algum, apenas a escuridão à frente, e os passos, as pegadas, negadas e confirmadas, com precisão, com resolução, até aprenderem que o caminho é mesmo infinito, e que o infinito é circular, e que o círculo é obscuro, e que o obscuro não se pode ver do outro lado, e que do outro lado nada existe, e que nada existe inclusive o amor, e que inclusive o amor é impossível, e que é impossível um beijo sequer. Se quer. Mas não...

..."eu estava em paz quando você chegou"...

- música do post: "relicário", Nando Reis e Cássia Eller

7.2.08

ato falho

...aparecem de vez em quando em nossas vidas aqueles momentos dignos de dizermos: oops! Massss, invariavelmente, é sempre muito tarde pra voltar atrás. Não que eu me arrependa (aliás não tenho me arrependido de nada nos últimos dias), só que as conseqüências logo logo aparecem pra tentar nos encher de culpa e remorso. Dou de ombro pra tudo isso. Aprendi que mesmo o impensado tem lá as suas compensações. Afinal de contas, atire a 1ª pedra quem nunca se deixou levar pelas circunstâncias... Bem, como ainda não recebi nenhuma pedrada, acho que o argumento foi bem convincente, não? Enfim, já levei sim muita pancada - e pedrada também, acreditem... - pra saber que o caminho de tijolos amarelos tem lá as suas armadilhas, e que muitas vezes é preciso ser esperto pra saber a hora exata de pegar um atalho (e isso é o que a vovozinha chama de ser "safo"...). Como até há bem pouco tempo eu era simplesmente um otário - ou loser, em denominações mais globalizadas -, qualquer coisa que me saísse fora das expectativas iniciais ou que - pior, ahhhh!!! - não estivesse dentro dos meus planos era um verdadeiro desastre, motivo de catastróficas torrentes depressivas e auto-destrutivas. E agora? ah, nada disso: comiseração pra mim é só mais uma palavrinha feia de dicionário que me lembra alguma doença de pele. Além de conviver bem comigo mesmo, lido muito melhor com os ditos "imprevistos", mesmo que estejam relacionados a sentimentos com os quais eu não queria mexer no momento. Bom, como não podemos escolher tudo nessa vida e jamais damos conta de organizar esse caos que nos rodeia (e vem cá, alguém ainda tenta?), um curto-circuito aconteceu dentro de mim e pronto: momento oops! a vista (e "à vista" também, pois, quando vi já tinha passado e ninguém anotou a placa...). É claro que não foi nada como naquela música da Britney (vem cá de novo, alguém ainda se lembra dessa fase, digamos, "normal" de Britney Spears? ah minha adolescência...), mas teve - e tem - um gostinho meio amargo. Não pelo que aconteceu, faço questão de frisar, porém recaídas amorosas causam sempre algum terremoto interno. Sei que tô mais controlado dessa vez, sei que não deveria ter acontecido e blábláblá... Eu sei isso tudo. Mas já que o leite não volta mais pra garrafa mesmo, o jeito é absorver esse ato falho e tentar tirar alguma coisa positiva disso. Foi bom? foi, não vou mentir... foi ótimo, até. Não sou mais criança, sei muito bem o que faço. Acontece que não é de uma hora pra outra que anos de história vão se apagar e tudo (re)começará do zero (e, falando sério, nem sei se quero que isso de fato aconteça...). O que é que eu quero então? Sei lá... só sei que não quero resolver nada agora. O peso da responsabilidade me pressiona contra a parede e eu grito assustado. Por isso prefiro deixá-la presa um pouquinho. Às vezes é bom curtir uns momentos de fossa intelectual. Não que isso me faça triste, deprimido ou qualquer coisa do tipo, não me interpretem mal. Apenas quero ficar um tiquinho comigo mesmo, usufruindo dos meus atos, mas sem ter de, por enquanto, decidir a vida de alguém. A vida a 2 é assim mesmo, não se enganem: toda decisão de 1 afeta o outro. Aliás, dizem até que quando 2 pessoas estão juntas forma-se um 3º - que seria a representação da união de um e outro. Eu acho esse papo muito filosófico e cabalístico pra mim. Acredito mais na teoria do ping-pong: quanto mais forte a porrada que cê der desse lado, mais forte virá a porrada do outro. Isso se a bolinha - oops! - não bater e ficar na rede. Os dois perdem? Não necessariamente, a menos que se queira decretar WO duplo. O vencedor será aquele que melhor administrar esses atos falhos e souber equilibrar a situação sem que ninguém saia prejudicado. Temos de aprender a lidar com as exceções à medida que aparecem, porém nunca as condenando pelas "desgraças" das nossas vidas, e muito menos tentando sistematizá-las em novas e infinitas loucas regras. Basta aceitar as coisas como elas são, sem fantasias, máscaras ou fingimentos do tipo "ai meu deus, mas eu sou sempre a vítimaaa!!!" (isso só cola em novela mexicana - e com muito choro e sombra preta toda borrada...). Pára com isso, ô. Há sempre um desvio na estrada, pois - salve Drummond! -, tem sempre uma maldita pedra no meio do caminho. Oops! quase tropecei, tá vendo...

- música do post: "negue", Ney Matogrosso

5.2.08

estranho início p 1 novo começo

...fevereiro não é apenas o mês do meu aniversário, um evento muitíssimo importante, claro. Há, por exemplo, uma certa festinha que também tem lá o seu destaque e que comumente chamamos de "carnaval". Além disso, a segunda folhinha do calendário concentra o estranhíssimo fenômeno do "estica-e-puxa" que o acomete nos anos bissextos (falando nisso, esse ano é um deles), sem contar que é o único dos meses em que a gente não pode usar aquela velha técnica de contar nos dedinhos pra saber se tem 30 ou 31 dias. Ou seja, fevereiro é o mês do "entre", do "quase": é quase o início do ano, mas fica entre janeiro (o mês das eternas promessas...) e de fato o começo "dos trabalhos" em março (pelo menos aqui no Brasil né); é quase um mês de festa, mas fica entre o Natal e a Páscoa, 2 datas religiosas (?) - ou seja, uma espécie de "compensação" momesca...; é quase um mês de capricórnio (um signo que tem lá suas características interessantes...), mas fica entre aquário e peixes (uma combinação que, por experiência própria, é catastrófica - apesar da aparente combinação de habitats). Enfim, eu poderia ficar aqui listando diversas combinações de coisas que fazem desses 28 (ou melhor, 29...) dias do ano um período um tanto quanto esdrúxulo pra começar o que quer que seja. Certo? não, errado! Por mais neurótico que eu seja, será que vale a pena mesmo me ater a esse tipo de superstição - que, a bem da verdade, nem chega a ser uma "superstição" de fato (afinal de contas eu não sou adepto de trevo de 4 folhas, pé de coelho ou qualquer outra coisa do gênero) - e atrasar a minha vida em uns 25 dias só pra depois não ter a desculpa de dizer "tá vendo, eu sabia mesmo que não ia dar em nada, não esperei o momento certo" quando - e se - algo não saísse como o planejado? Outra coisa que me veio agora à cabeça: por que diabos será que todo dito amuleto da "sorte" é ecológica ou politicamente incorreto (ou ambos???) - ponto a se ponderar... Mas voltando ao assunto: talvez seja melhor abandonar esse trauma de aquariano (ô fevereiro...) de planejar e arquitetar tudo e viver um pouco mais ao sabor da maré. Tudo bem, eu tenho um certo medinho de mar, mas é pra isso que existem os nossos salva-vidas né. Às vezes é preciso mesmo arriscar, e cada vez mais eu percebo a importância e a necessidade disso. Nada de deixar pra amanhã o que você pode fazer hoje, me lembra a vovozinha. A surpresa, o imprevisto, o impulso podem sim nos trazer ótimos resultados. Uma vez vi algo do Jorge Vercilo (que se não me engano era um extra do dvd do seu show - que por sinal é ótimo...) em que fazia uma analogia interessante com o futebol (aliás um esporte que eu não suporto mas que inexplicavelmente é paixão nacional), dizendo mais ou menos o seguinte: quando tô jogando uma partida de futebol e recebo uma bola nos pés tendo tempo suficiente pra pensar no que fazer, invarialvelmente acabo errando o chute; já quando a bola vem e num lampejo eu simplesmente a chuto por instinto, as chances de fazer um gol são bem maiores. Incrivelmente foi a lição que eu tirei disso... muitas vezes não nos basta ser racionais e controlados pra conquistar aquilo (ou aquele, ou aquela, vai saber...) que desejamos, e sim dar ouvidos ao nosso muito renegado 6º sentido - que pra mim não é mais apenas nome de filme chato ou "coisa de mulher". É "coisa" de todos nós, e com o que deveríamos aprender a lidar o mais cedo possível. Já perdi muitas coisas e pessoas na minha vida por um excesso de cuidado, por um transbordamento de esquemas, por uma overdose de esboços. Chega!!! Que tal ser mais espontâneo e encarar os dias de maneira mais natural? Bom, eu mesmo já tirei o calendário da geladeira, pois já aprendi a contar e a saber de cor em que mês, ano, milênio e lua estamos. Todos nós sabemos, faz parte da nossa cultura (infelizmente...). Mas não é por isso que vou deixar de ser feliz. E também não é por isso que vou perder a esperança de começar de novo sim, sempre, mesmo achando estranho esse início acontecer em pleno carnaval. Ai, tempo tempo tempo tempo, se não for o da música de Caetano, vê se me deixa um pouco. Em paz...

- música do post: "aquele abraço", Gilberto Gil

3.2.08

d ond menos se espera

...tá legal, eu sei que hoje é domingo de carnaval. Massss, como eu não curto muito (na verdade, nem um pouco) esse tipo de folia, eu tô aqui sim - e postando -, talvez pras paredes. Enfim, tenho motivos de sobra pra isso. Por quê? porque finalmente apareceu algo (leia-se "alguém"...) que me fizesse ver realmente que ainda vale a pena investir em romances, encontros, suspiros e coisas do gênero. Juro que não tava procurando nada nem ninguém (pelo menos não agora). Tava tranqüilo e poderia dizer até satisfeito em minha recém adquirida solteirice... porém... ah, porém, sem avisos ou qualquer outra coisa, surgiu uma pessoa na minha vida. E de onde eu menos esperaria que algo desse tipo acontecesse. O início nem foi tão promissor assim. Os primeiros contatos foram meio estranhos, secos, lacônicos - coisa de que não gosto, pois, como acho que já deu pra perceber, sou um alguém que fala (e escreve) um pouquinhozinho além da conta né. Nos falamos ao telefone (fui eu quem ligou, e confesso que meio sem vontade...) e... me surpreendi tão positivamente que fiquei meio abobado e sem assunto. EU, sem assunto! É, não era algo muito normal até então - e percebi que havia um quê especial naquela pessoa, tão diferente se mostrou. Fomos sinceros e honestos um com o outro logo de cara. Nada de joguinhos; colocamos as cartas na mesa sem medo - e acredito que ninguém blefou (eu pelo menos não). Sei lá, ando vacinado ultimamente, não caio mais em armadilha mal-feita. Tenho sentido cheiro de encrenca há quilômetros de distância... Não senti esse cheiro, e sim um perfume gostoso de jasmim, bom presságio, friozinho na barriga. Masss, mesmo assim, não quis alimentar falsas expectativas. Afinal de contas, combinamos, vinha o carnaval por aí, época de se divertir sem se preocupar muito com o amanhã. E talvez seja justamente esse o meu problema com essa tal festa: odeio perder o controle das coisas, não saber as conseqüências do que fiz (ou pelo menos tentar adivinhá-las). Bom, deixei claro que não ia pular em blocos nem nada disso, apesar do convite me ter sido feito. Ficou a promessa de nos falarmos depois de tudo, quando a fênix, símbolo máximo dessa alegria desmedida que toma conta das pessoas em fevereiro, recolhesse as suas asas e retornasse ao pó da quarta-feira de cinzas para apenas retornar no ano seguinte. Vai acontecer? o telefone vai tocar? Até lá não sei, e vou ter de esperar. Não estaria tão ansioso não fosse a surpresa que viria com a noite daquele mesmo dia. Dessa vez o telefone tocou, e eu fui inocentemente atender. Reconheci a voz desde o "alô"... Não entendendo, perguntei o porquê daquilo. A resposta? Foi assim, com aspas e tudo (porque não quero relatar com minha própria voz uma coisa tão boa, seria fazer com que perdesse grande parte do efeito): "ah, é que eu tava no ônibus e passei em frente à tua rua. Lembrei de você e resolvi te ligar, só pra confirmar que vou te ligar depois". Esse tipo de coisa me conquista. Como eu digo, não tô mais em busca de grandes felicidades, e sim me satisfazer com esses pequenos momentos mais preciosos do que pérolas, que guardo no coração como as guarda uma concha. Por isso a minha certa ansiedade de agora, por isso a indecisão que me bate no peito. Mas também penso que é melhor assim do que aquele vazio de antes. Claro que não tô apaixonado nem nada, longe disso, é só que a luzinha verde da esperança se acendeu. Meio tímida e tals, mas tá acesa. E eu tô feliz, sim senhor! Espero que o reinado de momo não condene essa minha ótima surpresa à guilhotina. Mais um conselho da vovozinha: comece a olhar mais pro céu, pois nunca se sabe quando algo - ou melhor, alguém... - está prestes a cair nos seus braços. De onde menos se espera, um cavalo branco aparece (e que só não seja de Tróia, pelo amor de deus...)...

- música do post: "canta, canta, minha gente", Simone

1.2.08

kem eh esse aih, hein???

...mudanças fazem parte da nossa vida mesmo que não as queiramos (esse verbo existe?). Enfim, eu sempre tive um medinho delas, tipo aquele nervoso que dá quando a gente escuta o barulhinho do motor do dentista (que eu tenho certeza ter sido inventado só pra me irritar...) ou quando mordemos aquela fruta bem azedinha. Massssss, como eu venho dizendo nos últimos posts, mudança é algo tão inevitável quanto necessário. Faz bem pro corpo, pra alma e, por incrível que pareça, pros que estão ao nosso redor. Por quê? ah, simples: funciona mais ou menos como aquele "jogo do contente" da Pollyanna (vem cá, alguém leu ou ainda lê "Pollyanna"??? eu desenterro cada coisa...), em que basta se estar feliz pra contagiar os outros também, fazendo-os ver a graça que há nas coisas bobas da vida. Por exemplo, vocês já repararam na graça que tem um besouro andando todo desconjuntado; ou um tatuí desengonçado se enterrando na areia da praia; ou fechar os olhos e ficar prestando atenção no escurinho dentro da gente mesmo (sempre surgem umas luzinhas engraçadas...); ou em comer trakinas de chocolate separando o recheio das cascas; ou mesmo em comer chandelle devargazinho, só com a pontinha da colher, que é pra durar mais? Não, pois então tente, e você vai ver que ficar correndo atrás d'A Felicidade, assim grandona e assustadora, não tá com nada. A gente acaba perdendo o fôlego e nada feito - fica triste, deprimido e, como diz a vovozinha, "chorando pelas pitangas amassadas"... Bom, esse papo todo foi pra dizer que eu comecei a mudar sim, de fato, de direito e por dever também! Ontem mesmo já comprei umas roupinhas novas, passeei um pouco, troquei finalmente os piercings (e tô pensando seriamente em comprar outros) e comecei a planejar a arrumação do quarto - como todo aquariano, faço questão de planejar tudo, claro... Falta o cabelo, mas isso vou deixar pra depois da folia... Porém, o que mais me impressionou (mais até, poderia facilmente dizer que me assustou mesmo) foi o que fiz no meu rosto: eu tirei a minha barba! Assim pode parecer algo banal, coisa e tals, mas eu não via o meu queixo há meses e meses.... Imaginem o susto quando dei de cara com um desconhecido ao espelho! Tudo bem, eu admito - na verdade eu não tenho "barba", e sim apenas bigode e cavanhaque meio sacanas, mas mesmo assim já os estava usando há séculos, só aparava... Incrível, eu me desconheço, ainda não me acostumei comigo. Sou outro, outra pessoa... Um amigo me disse que fiquei uns 5 anos mais novo. É, pode ser que isso é que tenha me assustado, pois nem mesmo aquele povo chato que oferece cartão de crédito na rua me deu bola, e sequer a moça da farmácia me chamou de "senhor". Isso me lembrou aquele verso final de um dos poemas antológicos da Cecília Meireles (se bem que eu acho que ela só tem poemas antológicos): "Em que espelho ficou perdida a minha face?". Quer saber, nem eu quero saber onde ficou. Deixa pra lá, deixa quieto que tô adorando ser menininho de novo e descobrir que às vezes basta um prestobarba pra gente mudar de vez. Plástica? Botox? Colágeno? Nada disso: uns pêlos a menos e a vida fica assim de novo levinha, como num final de tarde balançando na rede de um lugar bem tranqüilo. O sol tá de volta...

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...gente, eu tô falando sério, assim vou ficar mal acostumado hein... (brincadeira...rs). A sempre gentilíssima Jaya, lá do seu "- Deixa eu brincar de ser feliz?" presenteou o inacreditável mundo de alex e! com mais um selinho lindo de viver. E, como já deu pra notar, esse é chiquérrimo, pois é em francês - não sei vocês, mas eu sempre achei francês chiquérrimo, e também dos idiomas mais sedutores do planeta. Bom, a amizade pode até ser virtual (como tá lá escrito no selo...), massssssss com certeza o carinho que tenho por ti, querida Jaya, é muito do real, viu! De verdade mesmo!!! Obrigado por mais essa homenagem...

(...o 1º blog chiquérrimo que indico a receber esse selinho en français é o "Pensamentos da poetisa", e é só vocês o visitarem pra me dar razão. Aninha, você é muito chique, menina...);

(...o outro blog a que dedico o selinho importado é o "Através do meu espelho", não só pelo bom gosto do template, da foto, etc e tals, mas também pela estréia muito chique. Vale a pena conferir...)

...bom, esse selo aqui tem de ser devidamente justificado... A Teresa, lá do seu "Caneta vazia", ganhou esse presente e disse, no mesmo post, que todos os blogs linkados por lá poderiam se sentir igualmente agraciados. Assim, como o mundo aqui tem o seu espaço no caneta e eu ando viciado nessa estória de selos (por culpa de vocês, mas reconheço que é um vício delicioso que agora terão de alimentar...rs), eu ME senti também como se tivesse sido indicado. Por isso eu ME digo que "esse blog é show de bola", assim como todos os que estão linkados por aqui, claro. E eu ME orgulho muito de tê-los conhecido (essa estória de "ME" me lembrou o "Cócegas", daí essa bobeira sem graça de ficar repetindo isso...rs)...

(...um blog que indico a receber esse selo super bacana é o "Jornal da Lua", pois sempre tem algo muito show de bola pra ler por lá. Também vale muito a pena conferir...);

(...o outro blog indicado é repeteco - vai pro "Através do meu espelho" de novo que, além de chique, é também muito show de bola e inteligente...)

- música do post: "tarde em Itapuã", Toquinho