...refazia os passos por cima de suas próprias pegadas, como se a não desistir do caminho tomado. No entanto, essa rubrica de si mesmo apenas o deixava ainda mais fatigado, ainda mais aborrecido. Estava escuro e nada enxergava além de cinco palmos diante de si. Também havia o muro – branco, alto e sereno – ao seu lado; o que mais podia fazer senão tocá-lo de vez em quando, buscando equilíbrio – compreensão? O muro era plácido, mas não podia compreender. Até que o viu, longe ainda, depois mais de perto. Vinha em sua direção, tão sereno que parecia saber aonde ia. Mais de perto um pouco, os olhos dele penetraram os seus, de um verde irresistível, como irresistível é sucumbir à esperança. Pararam um ao lado do outro. As vestes brancas, soltas, descoladas dos corpos jovens. Dois homens em meio a um obscuro destino ao lado de um muro solitário. Sós, a sós, os dois olharam-se com ternura de quem cumprimenta alguém que há muito não via, apesar de antes nunca se terem visto. Não se conheciam, mesmo que houvessem reconhecido um ao outro através daquele olhar. Cumprimentaram-se, um gesto vago e absorto com as cabeças de peles frescas e cabelos soltos ao vento – e foram. Cada um num sentido daquela mesma direção, o primeiro confirmando, o segundo negando os passos no chão de terra, até que não mais se soubesse a distinção de para onde ir. Iam. Pouco tempo depois, o mesmo processo se repetiu. Os homens se viram, se cumprimentaram e seguiram seus caminhos. Até novamente se encontrarem e refazerem o processo de antes, que era o mesmo. Até o infinito. O homem viu o outro homem, primeiro distante, depois mais perto, tão mais de perto que pôde notar o verde incompreensível dos seus olhos, e de seus olhos notar o mesmo verde, irresistível também. As vestes eram brancas, o muro era branco, não havia sinal algum, apenas a escuridão à frente, e os passos, as pegadas, negadas e confirmadas, com precisão, com resolução, até aprenderem que o caminho é mesmo infinito, e que o infinito é circular, e que o círculo é obscuro, e que o obscuro não se pode ver do outro lado, e que do outro lado nada existe, e que nada existe inclusive o amor, e que inclusive o amor é impossível, e que é impossível um beijo sequer. Se quer. Mas não...
..."eu estava em paz quando você chegou"...
- música do post: "relicário", Nando Reis e Cássia Eller
7 comentários:
Nada existe... é fato. Mas o caminho é finito e os beijos são possíveis. Inclusive os beijos em olhares
eu axo q o bjo eh possivel, mas o amor mutuo naum, eh taum triste vc se apaixonar e descobrir q nunka houve amor, mas assim agente vai levando
rs
tem um selinhu pra ti no meu blog
ahuahauha
Tu merece!
Besos
*.*
ai que agonia!!! fiquei atormentada com esse texto! esse era o objetivo?
beijos!
Alex,
Quando eu achei que tava entendendo, virou tudo outra vez. Assim como o texto, como o que você colocou pra fora.
Saudades de passar aqui.
Beijo.
:*
-FICA BEM.
Nada existe?
Existe o amor e agonia que ele produz, por isso escreve assim!!
Boa semana menino de outro planeta!
Adoro Nando Reis e Cássia Éller.
^^
abraços
t+
uau!! forte a sua reflexão... mas as vezes parece que nada existe, que inventaram um tal de amor e até hj todo mundo se mata atrás dele..
talvez estamos procurando a coisa certa mas de forma errada..
beijos!!
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