20.1.08

game over

...quando criança eu sempre sentia um alívio enorme ao "zerar" um jogo. Era como tirar um enorme peso das costas. Pronto, havia cumprido uma grande responsabilidade, pensava. Mas a gente cresce e, além da idade e das mudanças inerentes que ela (e outras coisas...) acarretam, as nossas responsabilidades também se tornam bem maiores. O que não deixa de ser verdade é que continuo sentindo um alívio enorme ao resolver um problema, ao cumprir com sucesso uma responsabilidade a mim delegada (e muitas vezes por mim mesmo). Acontece que, além disso, uma outra coisa não mudou desde então. Depois do tal alívio que o eu "pequenininho" sentia, esse mesmo eu em miniatura ficava com uma sensação estranha, como se uma grande falta o preenchesse. Só que isso era pensamento de gente grande, por isso esse eu (que era eu, claro) nem dava importância. O eu que agora escreve pra vocês deu tanta volta pra dizer que, nesse exato momento, sente o mesmo: uma grande falta, uma dorzinha que aperta no peito e que dá vontade de ficar sozinho, às vezes até de chorar. É claro que tô assim não por um simples jogo de videogame, e sim pelos jogos que a nossa própria vida teima em nos preparar, nos quais nos vemos envolvidos mesmo sem saber direito as regras. Ontem à noite tive uma decepção muito grande: uma pessoa de que gostava muito revelou-se outra, completamente estranha - e de quem tive bastante medo e raiva, por ter me enganado por tanto tempo. Mais um jogo da vida? Sim, mais um, que fiz questão de enfrentar com a cabeça erguida e com o mesmo ímpeto dos meus 10 anos, época em que todo mundo se acha invencível, o próprio super-homem. Superei as terríveis fases e enfrentei os "chefões" que me apareceram pelo caminho, até que consegui, novamente, zerar mais esse jogo. E foi duro. Na verdade eu já sabia que não ia ser fácil, mas morria de medo de desistir no meio da coisa toda e resolver deixar tudo como estava. Pensando bem, realmente não valeria a pena continuar me machucando e, de certa forma, machucando a outra pessoa também (até porque já não nos correspondíamos há algum tempo). Acredito ter tomado a decisão certa, pois senti o mesmo alívio de antes. Digo, do meu "eu" de antes, criança, menino, e que me inspirou a analogia pra esse post. Não me arrependo de nada do que fiz. Tenho minha consciência tranqüila. Dei o meu melhor, e gostaria de ter acertado. Gostaria também de que fosse pra sempre ("se lembra quando a gente/chegou um dia a acreditar/que tudo era pra sempre/sem saber/que o pra sempre/sempre acaba"). Essa música não sai da minha cabeça, assim como esses versos da Sophia de Mello Breyner: "Terror de te amar num sítio tão frágil/como o mundo/Mal de te amar neste lugar de imperfeição/Onde tudo nos quebra e emudece/Onde tudo nos mente e nos separa". Parti do videogame, passei pela música e cheguei à poesia. Vai ver eu tenha mesmo essa necessidade vital de ser eclético (e confuso?) pra tentar suportar a dor de um coração partido, de uma traição tenebrosa, de uma relação cujos cacos de felicidade recolhi e guardei numa caixinha dentro de mim. Fica talvez a mesma sensação estranha de antes, a grande falta que me preenche, preenchida ela mesma da saudade dos momentos bons que um dia vivi ao lado... ao lado de alguém que agora faz parte desse meu game over. Tudo nos quebra, é verdade Sophia, tudo nos mente e nos separa. Essas palavras ecoam dentro de mim. E como se faz pra vencer de repente um amor que não pode mais existir? Sei lá, ainda não cheguei a essa fase. Mas sou persistente, igual àquele garotinho de 10 anos...

- música do post: "felicidade foi embora", Caetano Veloso

3 comentários:

Amanda Beatriz disse...

tb não aprendi a lidar muito bem com esse game over de relções e de sentimentos que antes pareciam tão fortes! mas a gente aprende a acabar o jogo tão bem quanto quando erámos crianças e zerávamos os jogos todos!
cuide-se!
beijos!

Andrea de Lima disse...

eu também tenho uma teoria que envolve video game! e estava pensando em escrever sobre ela esses dias. só me falta inspiração!

gostei daqui!

até mais ler ;*

Jaya Magalhães disse...

Adorei a analogia. Essa história de comparar a vida com um jogo de video game.

Mas sabe o que diferencia tudo? Aqui no nosso mundo, a vida é uma só. E por isso é um bem precioso, que deve ser cuidado ao extremo e aproveitado ao máximo. O tempo todo!

:)

Beijo, Alex.
:*