26.1.08

síndrome da moeda (?)

...esse post é pura lavação de roupa suja. Mais que isso até, representa quase que um ritual de passagem: com ele, guardo umas coisas e enterro outras - e espero poder mantê-las assim pelo menos uns tempos. Como tudo nessa vida, as heranças também são uma espécie de ciclo. Pensem bem: a herança é um legado passado (e do passado!) de um certo alguém a você. O que não impede, porém, que haja, no meio desse caminho, algo ruim. O que quero dizer é que nem tudo o que fica é necessariamente bom. É claro que o "normal" é sermos tomados por aquela sensação nostálgica e que reveste as coisas com o manto do bem, em que todo mal é de súbito esquecido. Pois eu não penso assim... tudo tem dois lados. Não, isso não é sintoma de "síndrome da moeda" não, é apenas uma constatação mais do que óbvia, talvez, e cartesianamente comprovável com facilidade (afinal de contas, não foi assim que Newton descobriu a gravidade?). Assim como o que sobe tem de descer, o que começa tem de terminar. Eu sei eu sei, a Disney incutiu nas nossas cabeças durante décadas que, no final da estória, há um happy ending e, pior!, que ele dura pra sempre. P-R-A S-E-M-P-R-E ! ! ! Sintam bem o peso disso... Bom, eu não quero (mais...) carregar esse tipo de responsabilidade nos meus ombros tensos pelo estresse diário. Enfim, fora desse imaginário made in Hollywood, o que nos resta - de resto mesmo, igual ao de comida requentada - é a pura e simples (e, muitas vezes, enfadonha) realidade, cuja noção de término está embutida. Não quero entrar aqui em termos filosóficos de porta de banheiro de botequim, dizendo coisas do tipo "mas é assim mesmo, a morte é a única certeza da vida", até porque se ditado, conselho ou lugar-comum fossem bons não seriam dados de graça, e sim vendidos. O pulo do gato é que a questão da herança se insere perfeitamente nesse caldo knorr. E por quê? Ora, simples como tomar sopa: a gente só recebe herança de alguém (ou algo, vai saber) que não existe mais. E que, por isso, temos de guardar, preservar de alguma forma. Como sou minimamente organizado e neurótico, resolvi separar em duas caixas as heranças que me ficaram de um relacionamento longo e de altos e baixos: numa, escrevi "caixa" mesmo, em que ficam as coisas boas que passaram; na outra, escrevi "caixão", obviamente porque tenho o intuito de enterrá-la. Bom, não vou dizer que o processo foi fácil, seria mentir com a cara mais deslavada desse mundo. Até porque vocês sabem muito bem que esse tipo especial de herança não é registrado em cartório, não tem firma reconhecida e nem mesmo precisa passar pelo tabelião... ou seja, a tarefa foi toda minha - mexer em tudo o que tava misturado, separar o bom do ruim (o que às vezes se torna algo difícil, já que não tenho experiência nisso e muita coisa acaba se confundindo), fechar e lacrar cada caixa. Bom, tive muita sorte de notar que, no final das contas - e de todo o processo, da papelada e afins, a caixa escrito "caixa" tava bem mais cheia, na verdade abarrotada de boas lembranças, ótimos momentos, fotos, poemas, presentes e um amor de que vou me recordar sempre que achar nunca ter sido feliz, pois eu fui... já a outra, o "caixão", ficou somente com umas poucas mágoas e rancores dos quais quero me livrar o quanto antes. Quer saber, nem vou enterrá-la não, vou cremá-la até que se transforme em cinzas, micro-partículas ínfimas de coisas que sequer arranham o volume imenso do que guardei de bom pra mim. Planejo jogá-las num lugar bem bonito - mas que tenha água, que a tudo purifica. Talvez não direto no mar, porque correm o risco de, mesmo se desfazendo, voltarem pra mim. E não, não quero mais essas mágoas e rancores e raivas e sei-lá-mais-o-quê de volta. Um rio. Isso. Jogarei essas cinzas num rio, bem pra longe, sempre correndo, sempre pra frente, adiante, avante, shazam! Assim, quando finalmente chegarem ao mar, estarão já tão diluídas que não vão poder fazer mais mal a ninguém. Inclusive mesmo a mim... Eu entendo que talvez nada disso faça muito sentido pra vocês ou desperte algum interesse relevante, mas saibam que eu precisava exorcizar essas coisas, justamente pra virar o disco e tocar essa vida adiante. A partir de agora, espero encarar o futuro (e o hoje...) de forma diferente. Como eu já disse aqui, tudo tem dois lados. E a lição que talvez eu possa tirar (e o propósito primeiro desse post) seja finalmente compreender que basta apenas a nossa atitude e a nossa vontade de optar por um deles. Se bom ou ruim, não importa, pois a escolha é pessoal. Aliás, sempre é mais fácil escolher, optar; o difícil é depois arcar com as conseqüências. Prefiro acreditar que cada um sabe o que faz... Bom, eu acredito que sei, opto e banco as minhas responsabilidades. Já acendi o fogo, as cinzas num instante ficam prontas. Espero só não me queimar...

- música do post: "pelos ares", Adriana Calcanhotto

7 comentários:

Anônimo disse...

Que isso quero q sinta-se em a vontade para expressar o seus sentimentos, até mesmo lavar as roupas sujas. Afinal, nada melhor que jogar o sapato velho e comprar outro novo. -Naõ! nao estou dizendo que aquilo que vc viveu e contou minuciosamente. aqui! - Não tenha lá sua importancia, pois eu sei que tem... caso não, você nao estaria tratando desse assunto, certo?
Bem, eu quero dizer amigo, que você fez bem em nao prossequir com aquilo que diz respeito ao passado, e principalmente: Em não guardar nenhuma magoa! Isso é muito importante e é a chave primodial para começar de novo!

p.s: Acho legal o fato de você ser organizado e neurado, para alguns isso pode ser um defeito, mas para mim isso é uma grande virtude!

Ivan Bittencourt disse...

Valeu pela visita ao meu blog, vou passar a frequentar o seu também...
abraços
t+

Daniel_ Barth disse...

Isso é muito válido. =D
Você está mesmo com uma voz mil vezes melhor.
Acho que vou te imitar e fazer isso também, mas acho que meu caixão ficará mais cheio que a caixa... huhuhuh.
Beijos, AMIGOOO!!!

Amanda Beatriz disse...

eu sou mais cruel, eu diria! da última vez peguei tudo, o que poderia ser devolvido, devolvi. o que não dava guardei para queimar quando puder! não guardei nada! porque tudo ali me magoa muito!
beijos!

Teresa disse...

É... eu acho que isso foi mesmo um DE-SA-BA-FO

mas sabe, vc não tá sozinho com essas broncas da vida.

e o importante eh q tudo q passou, passou e de vc olhar direitinho vc conseguiu passar bem por tudo

=*

Ana Paula Vieira disse...

bem, qdo este tipode coisa aconteceu comigo eu rasguei td e coloquei no primeiro saco de lixo q vi pela frente, A esta altura já deve ter sido triturado e moído! rs
Desabafar eh sempre bom, mesmo q isso venha com lágrimas. Infelizmente sofrer faz parte da vida.
=D
Bjs

Jaya Magalhães disse...

Aposto como você deve estar se sentindo leve depois de ter escrito tudo isso. Depois de saber que tudo passou, que tá passando, que vai passar...

Ainda não vivi história como a tua. Até hoje tenho tudo nos seus mesmos lugares. Nada de caixas.

Mas é isso Alex. Toda história um dia acaba. Cabe a nós escolhermos a melhor maneira de fazer o final. Feliz ou não.

Um beijo!
:*