15.4.08

fake

...sim, eu sou tão falso quanto uma nota de cinqüenta com a tua cara-de-pau estampada na frente. Sim, sou tão mentiroso que nada do que eu digo é digno da atenção de um cão sarnento. Sou tão ruim que não mereço nem mesmo a morte e tão desprezível que cuspo no prato que como. Sim, sou tudo isso e talvez muito mais. Sou assim do jeitinho que você me quis, da maneira como me criou, ajustado pros modos que você mesmo inventou. Agora é tarde demais, meu caro: leite derramado não volta pro gargalo sujo em que tua boca me bebeu até se encher, até que eu me azedasse no chão frio em que você me deixou. Me cobra explicações? Pois são essas aí. E os combinados que foram rompidos? e tudo aquilo que já foi dito? esquece, vai... nada mais artificial que as tuas mensagens no meu celular e que, por alguma esquizofrenia minha, nunca apaguei. Talvez seja mesmo algum distúrbio, masoquismo. Comigo sempre funcionou esse negócio de auto-flagelo. Basta ver as marcas no meu braço desde aquela vez que eu te deixei por tua causa. Até hoje as cicatrizes doem, feridas que abri porque não me agüentava mais sem você. E é isso o que tenho em troca? Todas essas acusações, injustiças, paranóias? Realmente fui um tolo ao acreditar que podia confiar em você. Fui idiota ao achar que, por algum momento, você de fato se importou. Comigo, sei que não. Com você durante todo o tempo. Espero que tenham sido ótimos os nossos carinhos, as trepadas que te dei - as melhores da tua vida, tenho certeza, pela tua cara via, pelos teus urros sentia, antes mesmo de você me dizer. Me arrependo do dia em que fiquei de joelhos te pedindo perdão, das incontáveis vezes em que me humilhei pela tua atenção, um olhar, um sorriso, um quase-nada que fosse. E ficava feliz. Ficava agradecido pela esmola como aquele mendigo que no metrô me pediu cinqüenta centavos pra tomar um café. Não dei. Por culpa tua. Hoje desconfio de tudo e todos. Fico com os dois pés atrás e mais os braços em posição de luta, revide. Quero que você saiba que esse recado é tão fake quanto o que a gente acha que tem um com o outro. No mínimo é palhaçada, piada de mal-gosto. Sem graça. Quando você me pergunta quem eu sou, é isso o que você quer saber? bom, é isso mesmo, honey: sou teu bonequinho de luxo, teu anjinho dos olhos verdes, teu bibelô de porcelana. É, aquele mesmo que você um dia comprou com presentes caros e palavras de almanaque. Tuas juras me saem tão baratas quanto aquelas do papel do bombom que comemos juntos uma vez, rindo até não poder mais. Mas, quer saber, eu não achei graça nenhuma. Puro fingimento. Aliás, você não sabe quantas vezes fingi gozar contigo. E foram muitas, querido... você não manja assim da coisa como pensa. Sei de gente que faz muuuito melhor - e por mais tempo. Porque foi assim que você me quis. Desde sempre. Desde o início você se acomodou por eu me acomodar por nós dois. Já que eu exijo minha alforria, você se desespera, joga na minha cara toda a merda que tava presa no ventilador. No fundo no fundo sei que não dá mais pra continuar, porém não sou eu quem vai tomar essa decisão pela enésima vez. Vê se cresce, aparece e vira homem de uma vez por todas, porra! Toma uma atitude, me xinga de verdade, me soca, me chuta, me agride pra valer, me faz sangrar, bate com a minha cabeça na quina da porta do teu armário, me mata. Tudo, tudo mesmo, menos essa tua apatia com que eu tenho de conviver há tanto tempo. Cansei. É a rebeldia da máquina. Daquele que até ontem era o teu robô de estimação, o bichinho de pelúcia que você usava toda noite pra dormir, as tuas fantasias que sempre realizei, disposto às maiores nojeiras só porque você gostava. Não eu. Não sou mais o teu sonho, quero virar teu pior pesadelo. Me tira do teu porta-retrato porque não sou mais o modelo pra mamãezinha alguma. Não me mostre a mais ninguém. Saí da jaula do teu zoológico, não admito que apontem mais os dedos em riste pra mim. No entanto, continuo à vontade pra sorrir em troca da troca de tudo aquilo que já te dei. Como disse, não presto. Era isso que você queria saber? então tá sabido. E pronto, vê se me deixa em paz...

- música do post: "cotidiano de um casal feliz", Jay Vaquer

22 comentários:

Stella disse...

Olha, são três e cinquenta da madrugada. Consegui terminar agora um trabalho para apresentar amanhã na faculdade, mas quando vi seu post aqui, tive de escrever que volto depois para comentar direitinho. Porque eu não entendi esta coisa de "fake" e como meus neurônios estão cansadinhos da silva, provavelmente não vou sequer lembrar o que eu escrevi aqui, Álex.

Mas isso não quer dizer que, assim que eu tiver uma folguinha, eu não volte e diga o quanto NÃO te acho nada disso que colocou aqui. Sei que é presunção pura e absurda da minha parte dizer isso, afinal, eu nem te conheço direito. Mas sou assim, digo o que sinto.
E o que sinto são muito boas vibrações vindas de você pra aqui, pra Minas Gerais. Então, confiarei nas vibrações e na minha intuição e amanhã colocarei um coment bem legal (e de alguém com menos sono) aqui.

Um abração, Minduim, e até mais!

P.S.: Quase tive uma crise histérica ao descobrir que não sou mais a única pessoa no planeta viciada em amendoins. Foi um choque, mas estou me recuperando! Agora, vou ter de dividir os amendoins do mundo inteiro com outro ser humano! Vai ser dose!;O)

Boa noite, Carioca!

Nando Damázio disse...

E viva a liberdade !! \o/

Cara, esse texto foi uma verdadeira "lavada de alma", é bem assim mesmo que tô precisando me sentir ..

Quase uma "auto-ajuda", hehe ..

É muito bom quando encotramos pessoas que falam/escrevem justamente aquilo que a gente está precisando ler/ouvir ..

Abraço, ÁLEX !! rsrs

Nando Damázio disse...

Fiquei pensando sobre o que você disse lá sobre ficar sem graça quando elogiam o que você escreve .. Até entendo isso, é normal, mas saiba que se elogiam, com sinceridade, é porque o que você escreve é bom é agrada a quem lê ..

E, quanto a este texto, eu gosto dessas pessoalidades, pois a gente se identifica bastante com algumas delas, compartilhamos experiências com o próximo, nos vemos nas palavras do outro ..

O meu blog mesmo, você já deve ter percebido, é bem pessoal, tem muito da minha essência particular .. Ao criá-lo o intuito era publicar meu livro através do blog, mas com o tempo ele foi se tornando cada vez mais pessoal, eu me envolvendo mais, até que não dá mais pra ficar "neutro", acabo me revelando muito ali ..

E acho isso bom, é uma válvula de escape pra gente, é isso que você faz aqui e eu faço lá, botar pra fora o que a gente sente através das palavras .. É um dos diversos motivos que leva a pessoa a criar um blog ..

Abração, Alex, no próximo post estarei aqui para ler tuas novas sensações !!

Anônimo disse...

Já ta ficando clichê, mas ótimo o post!!!!

Antes eu me achava meio fake, tipo insegurança mesmo. Queria que as pessoas gostassem de mim. Hoje, acho graça. Danem-se, sou o que sou e ponto.

Abraço e vc viu que eu havia dado uma sumida né?!! Pois é...

Teresa disse...

nossa!

bom, tenho certeza que esse texto é ficção, né... hehehe pq alex não é assim! Tenho certeza heeheh

Se bem que às vezes "não prestar" é a solução pra um monte de coisas.

Anônimo disse...

Realmente muito bom o post.
É difícil saber o quanto há de verdade em um post que deveria ser "inverdade" talvez?
Mas, a grande maioria dos relacionamento não possui uma balança equilibrada, sempre pende pra um dos lados e deixa marcas para o outro. Triste, porém verdade.

Anônimo disse...

Todo mundo já teve um lado fake na vida. É uma espécie de stress de si mesmo, e gera explosões como esta, que saiu no post.


Beijocas
www.lizziepohlmann.com

Jaya Magalhães disse...

Só pra avisar que passei aqui, e volto amanhã pra ler.

:)

Beeeeijo.

-Tô ansiosa e doida pra matar as saudades daqui, sr. Alex.

Stella disse...

Oi, Alex,

Voltei pronta para entender a raiva e angústia deste texto!...

Não vou dedilhar afirmações nem conselhos.

Só quem vivencia a batalha entende o que são suas feridas...

Assim, prefiro esperar e acreditar que este texto tenha realmente exorcisado raivas e um monte de sapos engolidos.

Contudo, principalmente, não vou deixar de dar um puxão leve de orelha e dizer (mesmo isso sendo audácia pura de minha parte) que você é melhor do que imagina e não é justo (por ninguém no mundo) colocar-se abaixo do que realmente é. Porque quando estamos mal, enxergamos os erros que cometemos, muitas vezes por comodismo, só que eu não acredito em passado como algo vivo. Eu só vejo o presente e nele não há nada de "fake" no dono deste mundo inacreditável...

Um abração e todo carinho para ti nesta noite, ok?

Até mais, Álex!

Bill Falcão disse...

Isso é o que pode ser chamado de escrever como um furacão, Alex! Ficção, ou realidade, é um "detalhe" que importa apenas a você. Para nós, seus fiéis leitores, fica mesmo é a sensação de ter lido os reflexos de um coração vibrante!
Grande abraçooooooooo!!!!!

Anônimo disse...

uau!! o sr desabafo e o sra alfinetada bem no meio do olho.. hahaha

Desejo sua felicidade! vc merece alguem que te valorize... não sacrifique isso por um rostinho lindo nem por outra disculpa...

beijos

Jaya Magalhães disse...

Bom,

Impossível você não estar um pouquinho em paz depois de tamanho desabafo. Eu li sem piscar. Li angustiada, mas entendendo em cada linha tua necessidade de extravasar essas emoções diversas. Batidas num liquidificador, tuas emoções. Raiva, desprezo, intolerância, violência, amor. É, eu ainda consegui enxergar amor. Acho que só ele, depois de tanto ter sido pisado e maltratado, provocaria efeitos tais.

Acho que agora você pode se desarmar, Alex.

Chega de fake. Vamos SER.

Um beijo.
:*

- Vou ler o que perdi.

Teresa disse...

ah alexxxxxx

tem brincadeirinha pra vc lá no blog
quem sabe vc se anima neh?

=*

Filipe Garcia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Filipe Garcia disse...

Ufa... haja folêgo, haja coração. Não sei o que se passa contigo, Alex. Sei que sua alma parece atormentada. Portanto, lhe dou algumas palavras ditas por um Mestre muito sábio:

"Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância." João 10:10

Esse mesmo poeta é aquele que alivia, que apascenta, que acalma. Ao invés de entregar seu coração ao desespero, despeje tudo nas mãos do Mestre. O alívio que Ele pode lhe dar vai surpreendê-lo.

Abraços, meu caro.

Anônimo disse...

o seu blog ta tudoo.
amei, continue assim õ/
beijinhoo :*
se puder visitar o meu e dizer o que achou eu vou amar ;D
boa terça ;}

Anônimo disse...

Eu tenho mania de me colocar nas coisas, sabe, Alex... Neste post, li achando dramático demais pra mim... Mas aí fui reler, e, nossa, acho possível que seja não-eu, mas Aquele Alguém pra mim. Muito doido.

Andrea de Lima disse...

UOU! gato, arrasou em cada letra. nem pestanejei. e rolou até um desabafo interno enquanto minha retina rolava pela tela do computador. não que eu diria isso a quem tem me feito sofrer, porque sei que não proposital. mas se algum dia eu me relacionar com alguém bem filha duma puta, imprimirei seu post e recitarei com a boca cheia. pode deixar que eu filmo pra você, tá?

até mais ler.

Guga Pitanga disse...

Eu senti que depois desse post, você deve ter dado uma boa de uma respirada aliviado...

Pitango

http://lenfantdeboheme.blogspot.com/

Stella disse...

Alex, cadê você?...

Senti sua falta aqui e no Dominus...

Dá notícia, vai... Só pra me acalmar um pouco...

Um abraço cheio de carinho pra ti, Carioca!

Flávia Batista disse...

gostei do post... não curto o Jay Vaquer, mas confesso q essa letra é inteligente... quer dizer interessante!

Érica disse...

O prazer que pode proporcionar dizer "Eu não presto e nem vou fingir que tenho escrupulos", que só mesmo as pessoas que se dão o direito de dizer são capazes de sentir

Alex, o post é muito pessoal e digamos que eu não vou te subestimar dizendo que você não é assim, não te julgo e cansei das convenções e é por isso mesmo que esse foi um post incrível

Grande abraço querido