...acabei de ler recentemente o volume de correspondências de Clarice Lispector, organizado por Teresa Montero para a Rocco em 2002. O que mais me impressionou nesse livro não foram os contatos ilustres que se correspondiam com ela, tais como Lúcio Cardoso, Carlos Drummond de Andrade ou Fernando Sabino, só para ficar em uma pequena parcela de exemplos, e sim a inquietude infinita de alma dessa estrondosa mulher, cujas palavras transbordavam ao mesmo tempo de beleza e comunhão com uma certeza muito interior: a de que a vida não se faz de certezas. Além disso, fiquei alucinado pela “literatura” de suas cartas – muitas podiam perfeitamente se passar por contos ou crônicas, se assim a autora quisesse, o que me fez perceber que o estilo de Clarice era próprio de sua pessoa, ou seja, natural, sem realmente denotar, em minha singela opinião, qualquer traço de afetação romanesca. Tida por muitos como “hermética”, “misteriosa”, “complicada” etcetcetc & muito blábláblá, a dicção literária de Clarice parece ultrapassar tudo isso, pois que não dirigida a um público específico (a não ser pelas cartas, obviamente de cunho remetido...). O que quero dizer é que sinto uma invejinha boa de Clarice Lispector, de ter a sensação, lendo-a, seja através de correspondências ou de sua extensa obra, de estar próximo a um genuíno coração selvagem que não se conformou a uma existência mediana, e que buscou sempre expressar a vida em seus detalhes mais específicos – e por isso preciosos. Também fico com um sentimento de nostalgia do que nunca tive, por mais estranho que isso pareça: sinto falta dessa época em que as pessoas mandavam cartas umas para as outras, num tempo pré-histórico em que internet era mito e, tv, em preto-e-branco. A carta tem todo um charme, todo um tom intimista que a frieza de um e-mail não permite. Está bem, talvez eu esteja sendo um tanto rude com a modernidade, ou mesmo despeitado, mas a saudade satisfeita pela sensação do abrir um envelope devia ser única. E a atenção do manuscrito, pouco a pouco substituído pelo teclado, jamais pode ser esquecida. Para os que ainda resistem a esses argumentos, o principal: se cartas fossem assim tão obsoletas, para que então publicá-las? Ah sim: cadê os meus textos? Achei que podiam esperar mais uns cinco dias... Clarice Lispector merece todo esse post e a minha e vossa atenção...
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...reservei um momentinho nesse post para uma mensagem pra lá de especial: queria muito agradecer as palavras de apoio que venho recebendo desde a minha volta a esse mundo. Muito obrigado, o carinho de vocês é mesmo digno de todo agradecimento. E Jaya, querida, o seu efusivo comentário me deixou muito feliz, mesmo num dia em que eu não tava pra sorrisos... Beijo em todos...
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...outro “à parte”, mas igualmente merecido: faria 100 (!) anos hoje a nossa Pequena Notável. Digo “nossa” porque Carmen Miranda foi brasileira até o último cacho de bananas, e também é uma das mais admiradas e respeitadas artistas brasileiras de todos os tempos e assim o será pra sempre, espero eu. Ter nascido em Portugal foi um mero detalhe, mais um entre tantos na vida e carreira dessa outra grande mulher do nosso país, e de quem nos devemos orgulhar. Hoje tão em moda, a sandália plataforma foi invenção sua. Essa e outras tantas peças do acervo de Carmen estão em permanente exposição no Museu Carmen Miranda, que fica no Parque do Flamengo, em frente ao número 560, aqui no Rio. Vale a pena conferir...
- música do post: “reconvexo”, Maria Bethânia
3 comentários:
OI CARIOCA, PARABÉNS POR LER CLARISSE LISPECTOR.GOSTEI, REALMENTE DO SEU BLOG.ESCREVO ESTILO DIFERENTE:HUMOR
JÁ O COLOQUEI NOS MEUS FAVORITOS.UM GRANDE ABRAÇO.
PS.PÔ , QUARTA- FEIRA E A PRAIA ESTAVA ENTUPIDA!!!
Alex,
Li o texto e fiquei curiosíssima. Posso contar que nunca li nada de Clarice? Ai, que feio, né? Mas prometo fazê-lo. Em breve. Tuas palavras deixaram em minha uma sede. Preciso saciar. E irei.
Aaaaah, que eu fiquei toda boba de ver meu nome citado ali. Rs. Tão bom você de volta, rapaz! E eu tô contando os dias pra que você volte a postar. Tá, pode babar Clarice. Pooode. (:
E quisera eu visitar Carmen, da maneira sugerida. Quisera eu...
Te beijo, com carinho.
Lembrar Clarice foi 10, Alex!
E irei visitar o museu de Carmen, na minha próxima visita ao Rio. Que, espero, seja breve!
Aquele abraço!
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