31.12.07

sáb à noit (td mundo espera alguma coisa...)

...cansado de ficar em casa sozinho, resolvi procurar o meu caminho sábado à noite. Acabei parando não num dos melhores lugares, não com as melhores opções da minha vida e muito menos com o melhor dos ânimos. Mas fui pra me divertir - e isso consegui, dependendo da definição de cada um acerca do termo "diversão". Bom, pelo menos na minha concepção, diria que foi "divertido". Depois de algumas doses, vi. Nem sei se já estava olhando pra mim antes; nesses lugares a gente nunca sabe se estão realmente olhando pra gente. Estava. E eu o vi. Um verdadeiro príncipe de olhos verdes montado num unicórnio branco de chifre tão brilhante que parecia mesmo um diamante. Algumas doses a mais, resolvi tomar a iniciativa. Logo eu, que prefiro seguir os meus caminhos sozinho. O príncipe bafejou algumas coisas em minha orelha esquerda. Seu hálito não era de alecrim ou alfazema. Na verdade julgo que já tinha tomado ainda mais doses que eu. A música recomeçou frenética; as luzes espocavam novas formas, cores e suores refletidos num átimo. Por alguns poucos segundos pensei ter chegado ao paraíso. Clichê ou não (não me importa) estava era no inferno. Quando me dei conta o lindo unicórnio havia sumido. Em seu lugar havia um dragão horrível. De suas ventas, grandes labaredas incandescentes saíam, chamuscando a minha roupa. O príncipe de antes transformou-se em lembrança distante: diante de mim estava uma figura completamente diversa - e terrível. Um bruxo. Era um bruxo que estava diante de mim. Espantei-me, quis correr, fugir para o mais longe que pudesse. Tarde demais, já havia lançado o seu feitiço em mim (não sei se antes ou depois da maçã que mordi...). Às suas ordens, levou-me até sua masmorra, onde fizemos tudo o que quis fazer. Eu, enfeitiçado pelo bruxo, não tive muita escolha. Levamos algumas horas nisso, atos de lúxuria explícita e indescritível, até que o efeito da poção maligna passasse. Com o néctar do mago escorrendo pelo canto esquerdo da minha boca, me dei conta - finalmente - de que nada daquilo era mágico: estava apenas numa boate fétida, bebido talvez um pouco além da conta e transado com um desconhecido que não tinha nada de mal ou de bem - era apenas humano e queria se divertir (tanto quanto eu), no banco de trás de um carro que fedia à cerveja barata do lugar. No final das contas, acho que somos todos sapos. Um amigo meu uma vez me disse: "se você conseguir contar quantas vezes transou durante o ano, aí sim tem alguma coisa errada contigo". Bom, como eu não consegui (e, acreditem ou não, eu tentei), talvez as coisas não estejam assim tão ruins pra mim. Ainda...

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...hoje é o último dia do ano e eu escrevo sob o efeito desse último fim de semana. Aliás, não sei se sob o efeito do fim de semana ou pelo fato de ter sido o último. Sempre fico pior em situações assim, de "término". Acho muito difícil ser apenas coincidência. Mas não me arrependo de nada do que faço. Uma boa lição para 2008. O que espero mudar? 1000000 de coisas. Tô dolorido e preguiçoso demais pra vislumbrar quaisquer resoluções. Enfim, feliz ano novo...

- música do post: "next year, baby", Jamie Cullum

29.12.07

o poder de ficar, mar e Bethânia

...fiquei impressionado com a exposição LUSA - A Matriz Portuguesa, até 10 de fevereiro no CCBB do Rio de Janeiro. Tudo bem, num dia como o de hoje, de um calor insuportável, é mesmo impressionante inclusive o fato de ir ao centro da cidade borbulhante para assistir a qualquer coisa. Enfim, como não sou lá muito fã de curtir praia, fui... e me surpreendi positivamente. É incrível como nos damos conta da sede do homem por deixar marcas, vestígios, símbolos que sejam de sua estada no mundo. Desde a pré-história da península ibérica (num período beeem anterior à formação do nosso já conhecido Portugal, mas já posterior ao apogeu da cultura clássica helênica), há várias demonstrações de ritos e de simbologias próprias dos povos que nos antecederam. Além disso, as várias outras salas que abrigam as inúmeras peças da exposição nos contam, em detalhes de espantar pela riqueza, toda a história de formação de Portugal - há inclusive uma espada belíssima que é atribuída a Nun'Álvares Pereira!!! Desculpem-me o entusiasmo, mas sou fascinado por história - e especialmente a portuguesa. Bom, não vou contar tudo aqui, porém vale muitíssimo a pena dar um chegada lá no CCBB pra conferir tudo de pertinho. Há uma sala só sobre os descobrimentos, outra sobre a formação da língua portuguesa e até mesmo uma terceira que foi transformada em uma espécie de "cineminha", em cujo telão passa um curta super interessante com os curadores da exposição falando sobre o fascínio dos portugueses pelo mar e seu desejo de expansão - uma vez que Portugal era tido, para o mundo ocdental da época, como a finisterra. É realmente um exemplo do poder de ficar, de permanecer, de inserir-se continuamente na posteridade, mesmo que isso representasse, muitas vezes, impor-se de maneira violenta (vide a linda e inteligentíssima sala sobre os judeus)...

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...e falando em mar: hiper legal a entrevista com Maria Bethânia que saiu no caderno "Ela" do jornal "O Globo" de hoje. Depois de todos os percalços por que passou esse ano, essa minha baiana querida e amada esbanja simpatia e o sorriso habitual numa foto de página inteira que é pra recortar e fazer um poster. Apaixonada pelo mar e por Sophia de Mello Breyner (assim como eu...), Bethânia me deixa - vejam só que maravilha! - a seguinte lição de vida: "Dentro de mim tem a calma de quem sabe que dentro do mar tem um rio. E isso simplifica tudo, porque nos faz compreender que tudo é fonte onde se pode beber". Depois disso vou dizer o quê? Então me calo. Espero somente que eu não naufrague nesse mar, e nem que me afogue nesse rio. Eu que, diferentemente de Bethânia, ainda não aprendi a nadar...

- música do post: "o marujo português", Maria Bethânia

27.12.07

+ / -

...levo uma vida razoavelmente tranqüila, tinha um emprego razoavelmente interessante, gosto razoavelmente do que estudo, há alguém por que razoavelmente me interesso e por aí vai mais uma centena de coisas, talvez milhares... então por que diabos não me sinto nem razoavelmente satisfeito??? Talvez a culpa seja minha; ou talvez seja do razoavelmente. Sei lá, eu queria ser plenamente feliz, sofrer por uma paixão arrebatadora, trabalhar com algo que eu achasse super interessante e super importante e super tudo pra mim, adorar, amar o que me dedico a estudar por tanto tempo... mas nunca me senti assim... mais uma vez devo ter tomado as decisões erradas e ido por caminhos meio tortos que me levaram a isso (engraçado, me disseram ou eu li uma vez que o da direita era o certo... se bem que já fui pelo da esquerda e olha onde estou...). Vai ver não há caminhos certos nem errados. Vai ver cada um é que tem de, sozinho, construir ou mesmo apenas abrir um espaço só pra si no meio de tantos outros. Só que eu não tenho toda essa coragem, toda essa força de vontade para eu próprio parir um mundo só meu, que tivesse a minha cara - e onde eu me sentisse completamente à vontade. Pra quê? pra poder ser eu-mesmo eu acho, e afinal. Estou meio cansado de ir por onde sempre se vai, por onde os outros me indicam. Eu sei, não quero cuspir no prato que como, se alguns bem-intencionados me dão conselhos é porque sabem de algo, é porque já passaram por determinadas coisas das quais querem me proteger. Mas esse mundo é o deles, não o meu; as experiências também; as lições, ibidem... e onde é que eu fico? para onde vou? Isso apenas eu deveria saber responder. Não sei, e sinto-me culpado por isso. E cada vez mais cansado de seguir assim mesmo, sozinho, sem rumo, sem quê nem pra quê por aí. Talvez esteja à espera de algo ou alguém que me faça entender que o caminho não importa, e sim as pegadas que deixamos no chão, com os nossos próprios pés - quem sabe se entrelaçados - de carne e ossos, de objetivos a realizar, para além do céu azul que se descortina lá longe. Enfim, estou à espera de um "verdadeiro" milagre...

- música do post: "o segundo sol", Cássia Eller

26.12.07

D volta pra ksa

...é, passou rápido. No entanto, tudo o que eu esperava encontrar por onde fui e também com meu regresso foi só ilusão mesmo. Nada mudou - acho que nada muda. Nunca. Depois que arrumei as minhas coisas, tomei um banho e me deitei *puf!* parece que nunca havia saído dali. Já percebi que não adianta procurar em parte alguma se esse buraco infinito está dentro de mim mesmo. E não se preenche com o que quer que seja. Já tentei de um quase tudo, mas acabo sempre restando sozinho entrando em blogs alheios ou postando essas depressões tardias por aqui. Tudo bem, ninguém lê mesmo... É, isso sim é estar de volta. Mas sei lá... tem alguma coisa errada, alguma coisa aqui que eu não reconheço. Será que algo mudou de lugar? Será que algo se transformou e eu não vi? Difícil, eu que sou tão neurótico e detalhista e perfeccionista. Talvez algo tenha apenas se quebrado, apenas se destruído. É muito mais fácil não perceber quando algo se esvai, quando algo se destrói (e sei disso por experiência própria...). Ai ai... lar, doce lar...

- música do post: "por enquanto", Cássia Eller

22.12.07

viagens

...arrumando as malas para mais uma viagem, penso em como isso reflete a nossa mania (ou afã, vai se saber...) de buscar, de procurar algo que, para além de nós mesmos, deveria nos satisfazer. Deveria, eu disse, porque nunca satisfaz. Nem a mim, e acho que nem a ninguém. Viajamos para encontrar outras pessoas, conhecer novos lugares, viver novas experiências; enfim, viajamos para fugir do nosso próprio tédio, da monotonia que consome as nossas existências. Não que isso seja errado. Muito pelo contrário. Não era do tipo pessimista, porém cada vez mais acredito que a taça na verdade está meio vazia. Por isso aproveitemos a vida, sem medo, neuras ou qualquer outra coisa que nos atrapalhe a fruição plena de nossos prazeres, pois o tempo é curto, e mais e mais sombrio. Digo isso porque hoje um ser muitíssimo querido para mim partiu numa viagem sem retorno, e não sei o que poderá aproveitar "do lado de lá" (se é que tal "lado" existe realmente...). Tenho medo, muito medo de que quando chegue também a mim a hora de minha última viagem, não tenha encontrado nem metade das pessoas que poderia ter encontrado, conhecido os novos lugares que poderia ter conhecido e vivido todas as experiências que me eram possíveis de ser vividas. Não quero - e creio que ninguém quer - que as suas vidas tenham passado em branco, que se percam todos os seus rastros, que a busca tenha sido em vão... Por isso esse post é dedicado ao meu ser querido que me deixou só no meio dessa trajetória que chamamos vida. Não deixarei que se apaguem as suas pegadas, até quando chegar o momento de se apagarem as minhas. Parto agora, mas a minha viagem terá volta. Por enquanto. Eu espero...

- música do post: "SOS d'un terrien en detresse", Grégory Lemarchal

21.12.07

1º post (se eh q alg vai ler...)

...sempre que me dou conta de que faço algo pela primeira vez me dá um medo inexplicável, como se eu perdesse momentaneamente o controle de mim. Ao mesmo tempo, me dá também uma vontade louca de arriscar - experimentar me faz perder um pouco o senso das coisas. E não sei se isso me incomoda suficientemente para simplesmente fugir, daí que freqüentemente pulo de cabeça nas coisas (e quebro a cara na maioria das vezes...). Não sei se é esse um caso de também me arrebentar, mas mergulho de cabeça nesse mundo que não entendo. Na verdade não entendo o meu próprio mundo. Quem sabe o que acontecerá dessa vez? Não me importo mais; já acostumei a me sarar de feridas antigas (ou pelo menos a suportar essa dor). Não pela primeira, muito menos pela última vez...