...falou-me de flores e chocolate. Jogado num canto da sala. De flores porque eu cheirava à inocência de um jasmim, por causa da singeleza de uma margarida e porque reinava em mim a paz de um cravo branco. Não mais rubro por falta daquela ganância de antes. Não. Encerrado em mim. Sepultura de minha alma. Meu corpo. Sem gana de vida. Eu jogado num canto da sala. De chocolate porque amargo, do jeito que eu gostava. Não mais doce por falta daqueles tempos de antes, quando tudo não passava de manhãs e cafés na cama e morangos com chantilly. Não. Os morangos agora mofaram. É tempo de nova colheita. Sem gana de lida. Eu jogado num canto da sala.
Do outro lado – oposto – antagonista você. Encarando os meus pés cruzados nas vestes brancas. Já me havia falado. Silêncio. Nada mais agora era dito. E nem deveria ser. O que eu precisava saber estava em mim mesmo, porém em surpresa ainda não revelada. Segredo em teus olhos verdes, transbordando de lágrimas por minha incompreensão. Como se eu pudesse facilmente desfazer aquele laço de fita vermelha de cetim e desvencilhar-me do papel-embrulho colorido e brilhante, revelando à luz da escuridão de minha alma um ovo: um ovo de chocolate e, ao abri-lo, extasiar-me ante a beleza intacta da rosa: branca – como um pedido de paz. Em vez de lenços, um próprio ser vivo e complexo e belo me implorando a paz que no início pensei ser a do cravo. Mas não, não é a mesma paz funérea de um cravo branco, descolorido e revelado de súbito em sua nudez por deixar a sua vermelhidão escorrer minhas veias afora manchando as minhas vestes brancas.
Só então entendi que era você, do outro lado da sala e seus olhos verdes transbordando antagonismo, parábola de mágico usada pra me fazer enxergar, pra me fazer finalmente enxergar que, na verdade, eu estava errado esse tempo todo, ao acreditar que a única paz que me era possível era aquela de cravos brancos e nus e seu vermelho escorrendo aquele meu vermelho pra fora de mim. Mas talvez agora seja tarde demais, pois, chegando a tal compreensão, perdeu-se aquele aroma súbito da inocência de um jasmim que pairava no ar e restou-me apenas a loucura amarela do centro de uma margarida.
Hoje é domingo de Páscoa. Hoje não há sol nesse domingo. Não pode haver loucura em um domingo de Páscoa. A não ser que se negasse a si mesmo, à sua própria existência: um renascer, uma renovação, um rejubilar-se de vida e morte. E então talvez – e só talvez – eu poderia crer que haveria uma esperança em meus fluidos agora não mais rubros e sim lívidos não como cravos, jasmins ou margaridas, e sim como uma rosa branca – branca rosa, isso apenas, apenas isso, em inverso e reverso – e não à paz funérea, olor de inocência e loucura, como aquelas, em que seus contrários lhes são não só antitéticos como paradoxos em si mesmos. E então talvez – e só talvez – eu percebesse finalmente que sim, meu deus sim, há solução, há verdade, há você, há alguma esperança nesses teus olhos verdes transbordando de antagonismo do outro lado da sala. Quem sabe algum dia eu possa acreditar nesse teu gesto de laços de fita vermelha de cetim e embrulho colorido e brilhante: um ovo de chocolate amargo com uma rosa branca dentro.
Simplesmente assim ficaria, agradecido e morto de Paixão, às vésperas da aleluia de teu chamado que preciso acreditar ser sincero, mesmo que adornado do chocolate amargo que adoro, do embrulho e da fita que me enchem os olhos, e tudo isso pra ressuscitar hoje, em pleno domingo de Páscoa: outro, renovado, revigorado, renascido, quem sabe em um ovo também outro, também adornado tão belamente e com a mesma boa intenção pulsando por dentro, intenção sincera, de coração, de cor, que é justamente o que vale e o que é justo a você.
Justo, mas quem aqui falou em justiça? Não, não posso esquecer, não posso pacificamente esquecer o que fizeste apenas por um gesto tardio e agora oco de significado. Por um momento deixei-me enganar, por um instante quis estar enganado, errado, avesso. Mas não posso, e nem poderia. Trair a mim mesmo não me é mais uma opção. Tenho de ir até o final, até o fundo, ao fim de minhas próprias forças esvaindo-se nesse canto de sala – assim te dou o que mereces: em vez de branca rosa branca, um jardim inteiro de cravos também brancos e rubros, mas funestos, decorando a tua paz infernal de cova-rasa, o cheiro sufocante da inocência de jasmins e a irritante singeleza louca e branca-amarela das margaridas que, todas flores, todas unidas, cerrarão os dentes do sorriso diabólico e frio e sarcástico da vingança que eu quero fria congelante neste domingo de Páscoa absolutamente sem sol e tomado pela traição que me infligiste: tu és Judas e me renegaste perante os teus, antes mesmo de te renegares a mim mesmo, e agora choras essas tuas lágrimas verdes (de pena, arrependidas?), depois de me crucificares e de me veres morrer aos teus pés. Porém nunca implorei nem imploraria clemência. Eu quero a revanche: tu vencido derrotado combalido massacrado aos meus pés cruzados.
Agora não me venhas com choros, ovos e adornos, muito menos com brancas rosas brancas: tuas lágrimas são de crocodilo, teus verdes olhos de vidro, tua esperança é simples receio. Não fujas, agora é tarde demais: já me extravasei todo. Estou de novo puro, de alma lavada, de espírito outro que não a cor rubra de minhas vestes antes brancas, prova maior da tua traição de outrora. Sento-me e então faço de meu sangue encharcado o vinho tinto com que brindarei a minha vitória. Até a última gota. Até espremer meus panos de tal maneira que se purifiquem de novo, brancos como o novo fluido que me corre nas veias. Sozinho, bêbado, completamente inebriado de minha nova existência, de meu novo eu que tu desperdiçaste, te direi:
Nunca mais me fale de flores e chocolate. É tarde demais. É Páscoa. Não acredito em ti...
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...a sempre queridíssima Jaya, lá do seu "-Deixa eu brincar de ser feliz?", resolveu premiar o inacreditável mundo de alex e! com mais esse selinho super ultra bacana. Ela afirma que este que vos escreve é um dos "blogueiros que sabem comentar" e eu fico muito feliz de saber disso, pois sempre faço questão de ler os blogs que aqui 'tão linkados (quando posso, claro...) e deixar umas palavrinhas de carinho. Bom, resolvi então não "indicar" propriamente blogs a receber também esse selinho, e sim prestar uma homenagem àquelas pessoas que aparecem aqui pelo mundo e também "sabem comentar", deixando outras palavrinhas de carinho pra mim. São elas:
- Cris ("Dominus");
- Jaya ("-Deixa eu brincar de ser feliz?");
- Aninha ("Pensamentos da poetisa");
- Amanda Bia ("É só saudade...");
- Teresa ("Caneta vazia")
...beijão!!!...
...mais um presentinho liiindo de viver, dessa vez dado ao mundo pela fofíssima Amanda Bia, lá do seu "É só saudade...". Esse é um selinho muito especial pois, além de ter sido criado agorinha pela Amanda, representa aqueles que ela considera como seus amigos virtuais na blogosfera. E eu me sinto muito honrado de fazer parte deles, querida!!! Bom, como não poderia deixar de ser, todos aqueles que aqui estão linkados podem se sentir agraciados com o selinho, pois já os considero como verdadeiros amigos virtuais, tá bom? Beijão a todos!!!...
...ps: o Snoopy não é uma graça??? rs...
- música do post: "o amanhã", Simone
9 comentários:
...Nunca é Tarde para Aprender a Sorrir com a Alma...
eeeei
mas justamente porque é páscoa q a coitada merecia ser ouvida hehehe e é pra falar sim de flores e chocolates. não há dia melhor pra isso.
e querido, obrigada meeeesmo pelos selos, eu adoreeeeeeei. vou postar no próx. post.
beijooooooo
olá!! vou me apoderar do selo do amigo virtual..rsrs
beijos e adorei o seu texto..
Eu leio o que tu escreve
e me dá uma paz...
nao posso mais perder isso aqui
:*
Oie!!! Muito massa seu texto, gostei mesmo.
Então, vc é o primeiro visitante oficial da nova fase do meu blog. Adorei o seu deskarrego, nem tinha que pedir desculpas, rsrsrs!E vc deu uma olhada nos meus primeiros posts né? Ki vergonha! Não que eu tenha melhorado muito, mas eu escrevia tanta bobagem. Abraçao e inté!!!
Olha, vc colocou um link para o meu blog! Ki bunitinho!rsrs
snoopy é o nome do meu cachorro! por isso amo ele!
que bom que gostou do selo!
beijos!
Ah, flores e chocolates!!!! Que beleza, Alex! E catei meu selinho também hehehehehe!!!!!!
Todos acabamos falando das flores. E comendo chocolates, veja você! Rs.
Selos liiiindos!
:)
-Ufa, acho que agora você já nem se aguenta com meus comentários, né? Rs. O texto de baixo eu já comentei. Agora fico por aqui.
Abração, Alex.
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